terça-feira, 12 de dezembro de 2017

TELINHA QUENTE 289


Roberto Rillo Bíscaro

Walter Presents é um programa que apresenta séries estrangeiras – mormente policiais - ao público britânico acostumado a ler legendas após o sucesso de Forbrydelsen. Exibido na plataforma de streaming do classudo Channel 4, o nome deriva de seu curador e apresentador Walter Iuzzolino.
A ideia é que os espectadores estão assistindo ao que passou pelo sofisticado crivo de Walter, que afirma ter como parâmetros o sucesso de público e crítica das séries, representativas do melhor que seu país tem a oferecer em termos de escrita, direção e atuação. Convenientemente se “esquece” que o conteúdo exibido depende de licenças de exibição, preços etc. Não se trata apenas do refinado gosto de Iuzzolino – não me agrada a ideia de ter alguém tão ostensivamente pontificando o que é de bom gosto, bem questionável, diga-se, quando pegamos Nordic Noirs zicados, tipo a primeira temporada de Mammon (dizem que a segunda melhorou bem!).
Seja o que for, o programa é muito louvável, porque já trouxe até séries brasileiras, tchecas e chilenas, países dificilmente exibidos na TV fora de seus domínios (claro que descontadas nossas novelas, mas daí o público é distinto). Enquanto via a meia dúzia de capítulos da francesa Le Passager (2014) não pude deixar de me divertir com a incongruência de promovê-lo como o que há de melhor da teledramaturgia dalgum país ou a pretensão de curador querendo me fazer crer que seja “inteligente”, “sofisticado” ou sei lá quê. Não que seja ruim, longe disso, mas é só diversão, não tem pé nem cabeça. É só bobagem com boas referências.
Capitã Chatelet investiga uma série de assassinatos na nortista Bordeaux. Algum maluco está matando homens (geralmente são mulheres; ponto pra Le Passager!) em sofisticadas reproduções de mitos gregos, então, a primeira vítima é encontrada decapitada e no lugar da cabeça, uma de boi, simbolizando o Minotauro. Convenientemente entra em cena Mathias Freire, psiquiatra que explica os mitos a todo mundo. Ele passa a auxiliar Anais na investigação, que se adensa, porque envolverá megacorporação, a ditadura pinocheteana e multíplices identidades de uma personagem. É tudo envernizado com explicações psicanalíticas superssimbólicas pra aparentar minissérie mais “cabeça”, digna de ser apresentada prum público culturetchy.
A meia dúzia de capítulos exibidos pelo canal France 2 entretém, mas são tão ilógicos quanto, sei lá, Revenge ou Whitechapel (mas essa é beeeem mais divertida). Parece não haver burocracia na polícia francesa: quer um civil como parça na investigação? Fácil. Os 2 assassinos carecas e silentes acertam todo mundo menos o principal, enfim, parece que nunca lhes ocorre atirar primeiro em quem querem matar prioritariamente. Mocinha vai de carro a Marselha pra depois aparecer saindo da estação de trem ou busão em Bordeaux. Daí estão em Paris; daí em Bordeaux, sem muita transição.
Le Passager está a anos luz de ter a alta qualidade pretendida por Walter Presents. Tendo isso em mente, até que é assistível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário