Walter Presents é um programa que apresenta séries
estrangeiras – mormente policiais - ao público britânico acostumado a ler
legendas após o sucesso de Forbrydelsen. Exibido na plataforma de streaming do
classudo Channel 4, o nome deriva de seu curador e apresentador Walter
Iuzzolino.
A ideia é que os espectadores estão assistindo ao que
passou pelo sofisticado crivo de Walter, que afirma ter como parâmetros o
sucesso de público e crítica das séries, representativas do melhor que seu país
tem a oferecer em termos de escrita, direção e atuação. Convenientemente se
“esquece” que o conteúdo exibido depende de licenças de exibição, preços etc.
Não se trata apenas do refinado gosto de Iuzzolino – não me agrada a ideia de
ter alguém tão ostensivamente pontificando o que é de bom gosto, bem questionável,
diga-se, quando pegamos Nordic Noirs zicados, tipo a primeira temporada de Mammon
(dizem que a segunda melhorou bem!).
Seja o que for, o programa é muito louvável, porque já
trouxe até séries brasileiras, tchecas e chilenas, países dificilmente exibidos
na TV fora de seus domínios (claro que descontadas nossas novelas, mas daí o
público é distinto). Enquanto via a meia dúzia de capítulos da francesa Le
Passager (2014) não pude deixar de me divertir com a incongruência de
promovê-lo como o que há de melhor da teledramaturgia dalgum país ou a
pretensão de curador querendo me fazer crer que seja “inteligente”,
“sofisticado” ou sei lá quê. Não que seja ruim, longe disso, mas é só diversão,
não tem pé nem cabeça. É só bobagem com boas referências.
Capitã Chatelet investiga uma série de assassinatos na
nortista Bordeaux. Algum maluco está matando homens (geralmente são mulheres;
ponto pra Le Passager!) em sofisticadas reproduções de mitos gregos, então, a
primeira vítima é encontrada decapitada e no lugar da cabeça, uma de boi,
simbolizando o Minotauro. Convenientemente entra em cena Mathias Freire, psiquiatra
que explica os mitos a todo mundo. Ele passa a auxiliar Anais na investigação,
que se adensa, porque envolverá megacorporação, a ditadura pinocheteana e
multíplices identidades de uma personagem. É tudo envernizado com explicações
psicanalíticas superssimbólicas pra aparentar minissérie mais “cabeça”, digna
de ser apresentada prum público culturetchy.
A meia dúzia de capítulos exibidos pelo canal France 2
entretém, mas são tão ilógicos quanto, sei lá, Revenge ou Whitechapel (mas
essa é beeeem mais divertida). Parece não haver burocracia na polícia francesa:
quer um civil como parça na investigação? Fácil. Os 2 assassinos carecas e
silentes acertam todo mundo menos o principal, enfim, parece que nunca lhes
ocorre atirar primeiro em quem querem matar prioritariamente. Mocinha vai de
carro a Marselha pra depois aparecer saindo da estação de trem ou busão em
Bordeaux. Daí estão em Paris; daí em Bordeaux, sem muita transição.
Le Passager está a anos luz
de ter a alta qualidade pretendida por Walter Presents. Tendo isso em mente,
até que é assistível.
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