Roberto Rillo Bíscaro
Grosso modo, os anos 1950
foram marcados pela explosão de consumo da abundância norte-americana do
pós-guerra e pelo crescente pavor anticomunista e nuclear. A malvada e ateia URSS
poderia facilmente destruir o modo ianque de vida e por isso as escolas
repetiam com frequência táticas de proteção em caso de ataque atômico. Um vídeo
hilariante aconselhava as pessoas a se encolherem como tartaruga; duck and cover!
Esse ambiente foi propício e fundamental para o
florescimento da ficção-científica, já bem estabelecida na pulp fiction. Houve explosão de filmes sobre missões
intergalácticas, invasões alienígenas e monstros agigantados atomicamente. O
documentário Watch the Skies!: Science Fiction, the 1950’s and Us saiu em 2005,
ano em que Steven Spielberg lançava refilmagem dum desses clássicos B: A Guerra dos Mundos, baseado no livro do britânico H. G. Wells. O título Watch The Skies foi tirado do solilóquio final do jornalista em The Thing From Another World (1951), um dos mais respeitados filmes do subgênero produzidos na década. Vencido o alienígena que ameaçava os habitantes dum centro de pesquisas no Ártico, o repórter passa pelo rádio a história a seu editor. Ele diz que a batalha foi vencida, mas a guerra, não e admoestava os ouvintes a sempre olharem pro céu, em busca de invasores.
Não foi coincidência que no ano em que um dos diretores
contemporâneos mais adorados e poderosos lançou releitura de obra cinquentista,
Watch The Skies (WTS) tenha conseguido reunir George Lucas, Ridley Scott, James
Cameron, além de Spielberg, claro, para analisarem os filmes sci fi dos “anos doirados” que mais lhe
influenciaram. E como narrador, Luke Skywalker em pessoa, ou seja, Mark Hamill.
Peça ou não de potente marketing, isso não deve afugentar curiosos pelo tema: Watch The
Skies é competente e informativa cartilha comentada, que chega a informalmente
tipificar as manifestações cinematográficas. De vez em quando, um diretor ou
outro localiza na infância conclusões difíceis de crer que sacadas por um
garoto, mas isso pouco importa também. Independentemente de quando as
metaforizações foram feitas, são sempre pertinentes, adicionando camadas
interpretativas às tramas. O comadrismo dos diretores só derrapa, quando Spielberg
se pergunta (claro que ele sabia que Lucas responderia!) se um dos robozinhos
de Guerra Nas Estrelas era baseado no autômato de Planeta Proibido (1956). Ah,
me poupe, né Steven! Qualquer fã mínimo sabe que Robby, The Robot modelou o de
Perdidos no Espaço, porque projetados pelo mesmo cara, Robert Kinoshita. Você
deveria ter perguntado se foi “acaso” que os hoje icônicos créditos iniciais
subindo pela tela em direção ao infinito, sejam iguais aos usados em
Destination Mooon, de 1950.
Mas, isso é perdoável, porque o documentário cobre
bastantes filmes, com informações de produção, além de comentários certeiros,
tipo, como os militares estavam em alta, porque haviam surrado os alemães, os
vilões mais frequentes da ficção-científica da década eram os cientistas. A
relação dúbia com a ciência não escapa aos inteligentes comentadores: ao mesmo
tempo que era capaz de produzir maravilhas, seus efeitos colaterais podiam
gerar aranhas ou escorpiões gigantes.
Se você entende inglês não
deixe de ver; é muito elucidativo. Não apresentou nenhum filme que eu não
conhecesse (mas daí, escavei tanto essa década que acho não sobrou muito pra
descobrir), mas despertou desejo de rever vários, além de apresentar
possibilidades interpretativas não pensadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário