Roberto Rillo Bíscaro
A primeira onda de horror cinematográfico da era sonora foram os filmes da Universal (mas, não apenas), estrelando Frankenstein,
Drácula, a Múmia, o Homem Invisível, Dr. Jeckyl & Mr. Hyde. O denominador
comum dessa galera gótica é a origem inglesa. A múmia entra na lista, porque os
britânicos encetaram a febre egiptológica do século XIX e início do XX com sua
pilhagem, oops, expedições arqueológicas, em plagas faraônicas.
Os britânicos não se restringiram ao terror em celulose.
Sua contribuição em celuloide é muito importante, vide a influência perene das
produções da Hammer e da Amicus (fundada por ianques). Embora difuso, bom
começo pra se familiarizar com essa produção é o documentário Magic, Murder and
Monsters: The Story of British Horror and Fantasy (2007), da BBC.
Sem conceituar o que vem a ser fantasia, o programa
abre afirmando que Shaun Of The Dead (2004) marcava renascimento do terror
inglês. Essa ideia de que a produção de horror feneceu a partir dos anos 80
torna Magic, Murder and Monsters (MMM) razoavelmente bom para conhecer o
filmado entre as décadas de 1930 e 70.
Com depoimentos de gente como Mark Gatiss, John Landis
e Danny Boyle, não analisa quase nada e em sua proposta abrangente falha em
perceber a produção de fantasia sci fi dos 50’s, que não se resumiu a The Quatermass Experiment. Mas é instrutivo
saber que o percurso britânico tenha sido tão distinto do norte-americano em
alguns aspectos. Quatermass começou como serial
televisivo pra depois ser lançado no cine, fenômeno bem mais raro de
ocorrer na América do Norte, onde cine e TV fingiam viver em universos
distintos.
Quando passa pra fase Hammer-Amicus o documentário não
acrescentará muito a conhecedores da “História Geral” do horror e meio que
desconsola a falta de crítica pra apelação das produções setentistas em
comparação com as cultuadas produções góticas estreladas por gigantes, como
Peter Cushing e Christopher Lee (se bem que esses caras merecem
documentários-solo, amo, amo, amo!) Mas, pra quem apenas sabe da Hammer em sua
fase áurea, poderá ser interessante ver clipes e ouvir falar da nudez lésbica
das vampiras anos 70. Mas, mesmo assim pode interessar até pra estudiosos de
cultura pop ou queer studies escutar
uma atriz falando que não fazia ideia do que fazia uma lésbica, isso em plenos
anos 70! Não a taxemos de estúpida, entendamos que a homossexualidade feminina
durante séculos foi invisiblizada e edulcorada sob forma de “amizades muito
bonitas”.
Depois dessa parte o material fica difuso demais,
porque fantasia se mistura com horror a ponto de dar a entender que Harry
Potter tenha alguma responsabilidade no tal ressurgimento do horror inglês no
século XXI. Além disso, é difícil crer que nada tenha sido produzido nos anos
90.
Com suas limitações e falta de recorte, MMM está no
Youtube.
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