segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

CAIXA DE MÚSICA 299


Roberto Rillo Bíscaro

2017 foi ocupado para o Silhouette: lançaram DVD com a íntegra do LP de 2014, Beyond the Seventh Wave, e álbum de inéditas, The World Is Flat And Other Alternative Facts, que saiu dia 23 de setembro. Pena que graves problemas familiares do baixista Jurjen Bergsma obrigaram os holandeses a cancelar os shows de setembro em conjunto com o britânico The Gift, que teriam sido chave de ouro na celebração do lançamento.
Lançando álbuns desde 2006, a formação do Silhouette é Brian de Graeve (vocais e violão de 12 cordas), Daniel van der Weijde (guitarras), Erik Laan (teclados), Jurjen Bergsma (baixo) e Rob van Nieuwenhuijzen (bateria e percussão). Frequentemente classificada como Neo Prog, a banda realmente deve parte de sua sonoridade a grupos como o Saga, mas o Silhouette sempre teve mais tempero do que a sensaboria imperante no subgênero praticamente advindo da influência do Genesis.
A propósito, a maciça sombra da veneranda banda inglesa – que cobre Beyond the Seventh Wave quase por completo – deu lugar à paleta sonora mais diversa e personalizada em The World Is Flat And Other Alternative Facts. A referência à terra chata não indica pertença à cretinice terraplanista. Pelo contrário, o Silhouette explica que os abomináveis caminhos e perspectivas atuais tornam o planeta um lugar sem profundidade, assim, o LP trata de temas como belicismo, mas o tom geral não é depressivo e sim de alerta e constatação.
Em termos de som, nada de canções sombrias também. O quinteto aborda seus temas de modo bem apropriado ao prog sinfônico: com pompa e circunstância. Com músicos convidados que tocam flauta, oboé e violino, além de soprano fazendo vocais de apoio, a meia dúzia de canções de The World Is Flat And Other Alternative Facts não desapontará fãs de rock progressivo setentista amantes de seu lado mais esfuziante e pirotécnico.
O título da abertura March Of Peace já entrega ritmo e tema. O clima marcial bem marcado e energético acaba por salientar uma debilidade do Silhouette: os vocais fraquinhos às vezes. Legal, mas se o álbum todo fosse no nível, seria apenas mais um LP de Neo Prog num mundo já por demais repleto deles. O mesmo pode ser afirmado sobre Turn It Off a faixa final, que embora cheia de momentos líricos, retoma tema e um pouquinho do leitmotiv musical de March Of Peace.
Da segunda faixa adiante, as coisas melhoram sensivelmente. The Flow introduz a fartura de belos momentos melódicos e a intercalação de criativos solos de guitarra e teclado analógico. Six Feet Underground confirma a subida da qualidade e inaugura o miolo sublime. A faixa abre com piano, mas torna-se bem vibrante, não sem antes arrepiar a espinha de fãs prog com um senhor trechinho de órgão eclesiástico/Procul Harum. São 9 minutos e meio que farão o ouvinte dar graças por não estar a sete palmos, como sugere o título.
Quão frequentemente na história das artes o título de uma obra refletiu tão especularmente a experiência de apreciá-la? Os quase 18 minutos de Symphony for a Perfect Moment são exatamente o prometido: é uma sinfonia e deixa o momento perfeito. A participação de outro cantor, harmonias vocais no nível de um Gentle Giant e uma melodia mais condizente com a voz de Brian – tem um “paaaaaast” que quase chega a Yes, meu Deus do céu! – eliminam até esse problema recorrente. Sem dúvida, a canção mais bem-sucedida e acabada da carreira do Silhouette. Não há segundo feio ou desagradável, os arranjos são de um esmero e dinâmica de cair o queixo e a profusão de solos é humilhante pra concorrência. Especialmente os de guitarra plangente. Chora, guitarrão, nessa moda de prog sinfônico!
Não é aconselhável manter a adrenalina em nível sempre tão elevado; deve ser por isso que em seguida vem os 3 minutos de candura violônica de Sakura. De boa, eu toparia correr o risco de sobrecarregar o coração com uma Simphony for a Perfect Moment que pegasse o álbum inteiro com aquele nível de emoção e maestria.
Inacessivel uma banda prog dos Países Baixos? Que nada, tá no Bandcamp!

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