Roberto Rillo Bíscaro
2017 foi ocupado para o Silhouette: lançaram DVD com
a íntegra do LP de 2014, Beyond the Seventh Wave, e álbum de inéditas, The
World Is Flat And Other Alternative Facts, que saiu dia 23 de setembro. Pena
que graves problemas familiares do baixista Jurjen Bergsma obrigaram os
holandeses a cancelar os shows de setembro em conjunto com o britânico The Gift, que teriam sido chave de ouro na celebração do lançamento.
Lançando álbuns desde 2006, a formação do Silhouette é Brian
de Graeve (vocais e violão de 12 cordas), Daniel van der Weijde (guitarras), Erik
Laan (teclados), Jurjen Bergsma (baixo) e Rob van Nieuwenhuijzen (bateria e
percussão). Frequentemente classificada como Neo Prog, a banda realmente deve
parte de sua sonoridade a grupos como o Saga, mas o Silhouette sempre teve mais
tempero do que a sensaboria imperante no subgênero praticamente advindo da
influência do Genesis.
A propósito, a maciça sombra da veneranda banda inglesa
– que cobre Beyond the Seventh Wave quase por completo – deu lugar à paleta
sonora mais diversa e personalizada em The World Is Flat And Other Alternative
Facts. A referência à terra chata não indica pertença à cretinice
terraplanista. Pelo contrário, o Silhouette explica que os abomináveis caminhos
e perspectivas atuais tornam o planeta um lugar sem profundidade, assim, o LP
trata de temas como belicismo, mas o tom geral não é depressivo e sim de alerta
e constatação.
Em termos de som, nada de canções sombrias também. O
quinteto aborda seus temas de modo bem apropriado ao prog sinfônico: com pompa
e circunstância. Com músicos convidados que tocam flauta, oboé e violino, além
de soprano fazendo vocais de apoio, a meia dúzia de canções de The World Is
Flat And Other Alternative Facts não desapontará fãs de rock progressivo
setentista amantes de seu lado mais esfuziante e pirotécnico.
O título da abertura March Of Peace já entrega ritmo e
tema. O clima marcial bem marcado e energético acaba por salientar uma
debilidade do Silhouette: os vocais fraquinhos às vezes. Legal, mas se o álbum
todo fosse no nível, seria apenas mais um LP de Neo Prog num mundo já por
demais repleto deles. O mesmo pode ser afirmado sobre Turn It Off a faixa
final, que embora cheia de momentos líricos, retoma tema e um pouquinho do leitmotiv musical de March Of Peace.
Da segunda faixa adiante, as coisas melhoram sensivelmente.
The Flow introduz a fartura de belos momentos melódicos e a intercalação de
criativos solos de guitarra e teclado analógico. Six Feet Underground confirma
a subida da qualidade e inaugura o miolo sublime. A faixa abre com piano, mas
torna-se bem vibrante, não sem antes arrepiar a espinha de fãs prog com um
senhor trechinho de órgão eclesiástico/Procul Harum. São 9 minutos e meio que
farão o ouvinte dar graças por não estar a sete palmos, como sugere o título.
Quão frequentemente na história das artes o título de
uma obra refletiu tão especularmente a experiência de apreciá-la? Os quase 18
minutos de Symphony for a Perfect Moment são exatamente o prometido: é uma
sinfonia e deixa o momento perfeito. A participação de outro cantor, harmonias
vocais no nível de um Gentle Giant e uma melodia mais condizente com a voz de
Brian – tem um “paaaaaast” que quase chega a Yes, meu Deus do céu! – eliminam
até esse problema recorrente. Sem dúvida, a canção mais bem-sucedida e acabada
da carreira do Silhouette. Não há segundo feio ou desagradável, os arranjos são
de um esmero e dinâmica de cair o queixo e a profusão de solos é humilhante pra
concorrência. Especialmente os de guitarra plangente. Chora, guitarrão, nessa
moda de prog sinfônico!
Não é aconselhável manter a adrenalina em nível sempre
tão elevado; deve ser por isso que em seguida vem os 3 minutos de candura
violônica de Sakura. De boa, eu toparia correr o risco de sobrecarregar o
coração com uma Simphony for a Perfect Moment que pegasse o álbum inteiro com
aquele nível de emoção e maestria.
Inacessivel uma banda prog dos Países Baixos? Que nada,
tá no Bandcamp!
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