Roberto Rillo Bíscaro
Há quem abomine contracenar com crianças e animais,
porque ambos têm a inconveniente mania de roubar a cena, mesmo sem intenção.
Imagine num filme chamado Um Gato de Rua Chamado Bob (2016), estrelado por Bob
em pessoa, um gato inglês cor de laranja, que ganha tantos closes que faria
Norma Desmond envenená-lo sem dó.
Baseado num livro, baseado num fato, trata-se da
história de um narcodependente, que vive e canta nas ruas de Londres, até que
decide se tratar do vício e passa a morar num apartamento subvencionado e tomar
metadona, analgésico narcótico sintético, de efeitos similares aos da heroína e
da morfina, porém menos sedativo, por isso usado como substituto no tratamento
de viciados. Na primeira noite lá, James recebe a visita dum gato de rua, que o
escolheu como humano adotivo.
Após certa hesitação, James percebe que achou
companheiro pra vida e se tornam inseparáveis. Gasta às vezes o que não tem pra
alimentar Bob e anda por toda a cidade com o gato arvorado em seu ombro. Seu
faturamento cresce, porque o público passa a achar Bob tão carismático que
começa a encher de libras a sacolinha de James, enquanto esse toca em Covent
Garden ou Picadilly Circus ou vende revistas pela cidade.
Há uma rusga ou outra, o típico desaparecimento do
gato, um possível interesse romântico, a madrasta desagradável e o pai ausente,
mas Um Gato de Rua Chamado Bob é uma história de superação e interdependência
entre humano e felino. Ambos necessitavam um do outro e se acharam na hora
certa. Ao se responsabilizar por outro ser vivo – que lhe dá amor incondicional
de volta – James encontra mais um motivo pra se limpar das drogas.
Filmagens de turistas e fãs de Bob no Youtube e
Facebook chamaram a atenção de editora, James escreveu livro que virou best seller e na estreia do filme até
Kate Middleton acariciou Bob, que também apareceu em programas de entrevistas.
Sem se importar ou assustar com muita gente ao redor e
confusão de estúdios de TV, o gato laranja (ginger cat, em inglês) também ajuda
a desmistificar a estupidez supersticiosa de que felinos são,
interesseiros, traiçoeiros, enfim, todas aquelas características HUMANAS
atribuídas a eles.
Um par de críticos reclamou que Um Gato de Rua Chamado
Bob edulcora o viver nas ruas e a barra do processo de desintoxicação. Outro
que Bob ganha closes demais. Será que não leram o título do maldito filme? Um
GATO de Rua Chamado BOB! Lançado em novembro, ou seja, é filme pra preparar o
espírito pra temporada das festividades de Natal. Nem é coincidência que essa
data e o Ano Novo sejam ressaltadas na produção.
Bob é a estrela, seu comportamento “canino” – no
sentido do estereótipo de sociabilidade que se aplica aos cães –é o que encanta
o público. Mas, ele é gato, basta ver as entrevistas: fica deitado, na dele, e
quando quer atenção vai lá e lambe.
Como gateiro, amei, amei, amei demais! Bob é lindo; era
ele quem eu queria ver. A história de James é ótima, torcemos por ele, claro,
mas a fofura é Bob com seus cachecóis.
Fãs de Downton Abbey têm
bônus, porque Joanne Froggatt, a Anna Bates, está no elenco. E além de Bob e
dela, há muita cena nas ruas de Londres; que vontade de passear lá. Com Bob!
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