Roberto Rillo Bíscaro
Parte inesquecível para quem ouvia FM nos anos 1980
foram as power ballads: domesticação
do metal para atrair garotas aos shows e vender mais entradas/álbuns. Para
sobreviver, já veteranos como Kiss e Foreigner tiveram que entrar na onda dos
então novatos Quiet Riot, Europe e Ratt, e o resultado foram delícias-farofa
até hoje audíveis, como Forever e I Wanna Know What Love Is dos primeiros, e
uma série de outras das bandas do momento, como Carrie, sem contar a cascata de
baladas metal do Bon Jovi.
Mas, nem só de música lenta viveu a década do
consumismo yuppie de Reagan. Excesso é um dos clichês aferidos aos 80’s e o
metal não ficou imune (como se a geração Zeppelin não tivesse cometido excessos
pra chuchu). Cabelos se armaram feito bolos de casamento; meninos-machos usavam
mais maquiagem do que as strippers que
comiam, a ponto de constituírem sub-subgênero, o hair ou glam metal.
Citando o volume dos cabelos cuidadosamente montados,
mas sem ousar utilizar hair ou glam metal, o documentário When Metal Ruled The
World: 80's LA Sunset Strip Story, do canal VH1, mostra tudo o que um leigo
precisa saber sobre a ascensão e queda da cena metal mercantilizada, que se
desenvolveu ao longo e ao redor da Sunset Strip, em Los Angeles. Como se a cena
do Black Sabbath também não tivesse sido mercantilizada... Foi diferente e em
menor escala, apenas.
Clubes na longa avenida concentravam shows de bandas,
que se esforçavam para se distinguir uma das outras, até que o Quiet Riot
conseguiu contrato com grande gravadora e lançou Metal Health (1983), primeiro
álbum de metal a atingir o topo da Billboard. Como o documentário não focou
nenhuma banda em especial ou aprofundou-se em detalhes, não disse, por exemplo,
que esse, o terceiro álbum da banda, fora o primeiro a ser lançado em
território ianque. Antes, os LPs do Quiet Riot eram lançados apenas no Japão.
Como Los Angeles já era a capital mundial da indústria fonográfica, não estranha a peregrinação de bandas roqueiras para lá em busca
de lugar ao sol, não apenas literalmente. O estouro do Quiet Riot apenas
acelerou o processo, ainda mais incentivado quando a MTV adotou o sub-subgênero
como queridinho. Daí, então, todo mundo que tinha alguma boa aparência branca
foi contratado, a despeito de ter canções de qualidade. O documentário não
fala, e nem precisa – basta ver os depoentes – mas a cena metal cabeluda da LA
oitentista não era negra. Era caucasiana e heteronormativa (neste quesito, pelo
menos em termos das histórias “oficiais”).
Quiet Riot, Ratt, Twisted Sisters, Skid Row, enfim,
alguns dos mais influentes roqueiros do hair metal estão em When Metal Ruled
The World: 80's LA Sunset Strip Story, que também entrevista groupies e empresários. O formato
narrativo é aquele da ascensão, apogeu e queda. Então, na primeira fase
registra-se o papel das garotas, que sustentavam os aspirantes a estrelas do
rock, que, uma vez brilhando, entregavam-se a toda sorte de excesso sem pensar
nas consequências e se viram arruinadas – mas não arrependidas -, quando o
lúgubre grunge lhes roubou o trono e os dólares, com suas camisas de flanela e
desencanto pela vida (mas nunca por ganhar dinheiro).
O programa é muito instrutivo para perceber que a
entrada do Guns’n’Roses no cenário, em 1987, modificou um bocadinho o estilo,
com ar mais cafajeste, mas não o extinguiu, pelo contrário, foi reinvenção;
mudar para permanecer.
Sem chegar a uma hora de duração, When Metal Ruled The
World: 80's LA Sunset Strip Story não é apenas para o público metal, até porque
tem muito metaleiro que não bate a cabeça para esses posers, no jargão da subcultura. Mas, quantos popeiros resistem ao
apelo de We’re Not Gonna Take It ou Livin’ On a Prayer?
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