segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CAIXA DE MÚSICA 302


Roberto Rillo Bíscaro

Parte inesquecível para quem ouvia FM nos anos 1980 foram as power ballads: domesticação do metal para atrair garotas aos shows e vender mais entradas/álbuns. Para sobreviver, já veteranos como Kiss e Foreigner tiveram que entrar na onda dos então novatos Quiet Riot, Europe e Ratt, e o resultado foram delícias-farofa até hoje audíveis, como Forever e I Wanna Know What Love Is dos primeiros, e uma série de outras das bandas do momento, como Carrie, sem contar a cascata de baladas metal do Bon Jovi.

Mas, nem só de música lenta viveu a década do consumismo yuppie de Reagan. Excesso é um dos clichês aferidos aos 80’s e o metal não ficou imune (como se a geração Zeppelin não tivesse cometido excessos pra chuchu). Cabelos se armaram feito bolos de casamento; meninos-machos usavam mais maquiagem do que as strippers que comiam, a ponto de constituírem sub-subgênero, o hair ou glam metal.

Citando o volume dos cabelos cuidadosamente montados, mas sem ousar utilizar hair ou glam metal, o documentário When Metal Ruled The World: 80's LA Sunset Strip Story, do canal VH1, mostra tudo o que um leigo precisa saber sobre a ascensão e queda da cena metal mercantilizada, que se desenvolveu ao longo e ao redor da Sunset Strip, em Los Angeles. Como se a cena do Black Sabbath também não tivesse sido mercantilizada... Foi diferente e em menor escala, apenas.

Clubes na longa avenida concentravam shows de bandas, que se esforçavam para se distinguir uma das outras, até que o Quiet Riot conseguiu contrato com grande gravadora e lançou Metal Health (1983), primeiro álbum de metal a atingir o topo da Billboard. Como o documentário não focou nenhuma banda em especial ou aprofundou-se em detalhes, não disse, por exemplo, que esse, o terceiro álbum da banda, fora o primeiro a ser lançado em território ianque. Antes, os LPs do Quiet Riot eram lançados apenas no Japão.

Como Los Angeles já era a capital mundial da indústria fonográfica, não estranha a peregrinação de bandas roqueiras para lá em busca de lugar ao sol, não apenas literalmente. O estouro do Quiet Riot apenas acelerou o processo, ainda mais incentivado quando a MTV adotou o sub-subgênero como queridinho. Daí, então, todo mundo que tinha alguma boa aparência branca foi contratado, a despeito de ter canções de qualidade. O documentário não fala, e nem precisa – basta ver os depoentes – mas a cena metal cabeluda da LA oitentista não era negra. Era caucasiana e heteronormativa (neste quesito, pelo menos em termos das histórias “oficiais”).

Quiet Riot, Ratt, Twisted Sisters, Skid Row, enfim, alguns dos mais influentes roqueiros do hair metal estão em When Metal Ruled The World: 80's LA Sunset Strip Story, que também entrevista groupies e empresários. O formato narrativo é aquele da ascensão, apogeu e queda. Então, na primeira fase registra-se o papel das garotas, que sustentavam os aspirantes a estrelas do rock, que, uma vez brilhando, entregavam-se a toda sorte de excesso sem pensar nas consequências e se viram arruinadas – mas não arrependidas -, quando o lúgubre grunge lhes roubou o trono e os dólares, com suas camisas de flanela e desencanto pela vida (mas nunca por ganhar dinheiro).

O programa é muito instrutivo para perceber que a entrada do Guns’n’Roses no cenário, em 1987, modificou um bocadinho o estilo, com ar mais cafajeste, mas não o extinguiu, pelo contrário, foi reinvenção; mudar para permanecer.

Sem chegar a uma hora de duração, When Metal Ruled The World: 80's LA Sunset Strip Story não é apenas para o público metal, até porque tem muito metaleiro que não bate a cabeça para esses posers, no jargão da subcultura. Mas, quantos popeiros resistem ao apelo de We’re Not Gonna Take It ou Livin’ On a Prayer?

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