Roberto Rillo Bíscaro
Syleena Johnson teve infância e adolescência muito
musicais, mas seu começo de carreira não foi tão fácil. Seu pai é o soulman Syl Johnson, que nunca estourou
- mas foi regravado por Al Green e os Talking Heads e sampleado por meio mundo
-, e por isso não incentivou a filha. Syleena também teve nódulos nas cordas
vocais, precisou de cirurgia e anos de fono. A despeito dos contratempos e
falta de incentivo, Johnson não desistiu e já tem discografia considerável, diplomas
universitários em música e nutrição e colaborações com queridinhos do hip hop
atual, como Kanye West e R. Kelly. Como várias de suas colegas de subgênero, participa
de reality shows pra ganhar visibilidade.
Lançado dia 10 de novembro pela Shanachie Records, The
Rebirth Of Soul foi produzido pelo paisão e o caráter old school de Syl impregna o álbum, irretocável em sua dezena de
reinterpretações de clássicos do R’n’B dos anos 50 aos 70. Tudo gravado ao vivo
em estúdio, como nos velhos tempos, atestando o profissionalismo, fogo e paixão
da banda de veteranos escalados por Syl e da vocalista. Todos brilham em tudo.
Impressiona como Syleena flana com exuberância e
assertividade por diferentes facetas do espectro da rica black music norte-americana. Ela desliza pelo deboísmo Motown de
Make Me Your e We did It. Chora de amor ainda meio à moda 50’s em There’ll Come
a Time e Lonely Teardrops, mas repare como o registro de dor amorosa é distinto
nas duas. Vai pro ativismo black power, se
perguntando em tom de “qual é, mané?” is It Because I’m Black, regravação do
papi, aliás.
Sem medo de comparação com plenas e absolutas da soul music, cospe fogo na arethiana
Chain Of Fools e rasga o coração em I’d Rather Go Blind, consagrada por Etta
James. Eita! Viram d’onde Tamar Braxton tirou o drama pra fazer letra dizendo que preferia ficar cega a ver o macho com outra? Há outro elo com o álbum da
irmã de Toni, porém. Tamar pós-modernamente releu The Makings Of You ao passo
que Syleena resolveu encarar as orquestrais e magistrais interpretações de
Gladys Knight e Curtis Mayffield. Só ouvindo pra crer no madrigal milagroso que
resultou. Não deve nada, talvez até supere a de Curtis.
Obrigatório, ório,
ório!
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