terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

TELINHA QUENTE 295


Roberto Rillo Bíscaro

Até eu já lancei mão do chavão de comparar a família real britânica com uma grande novela em tempo/da vida real. O Channel 4 pegou o clichê e desenvolveu The Windsors, que, em suas duas curtas temporadas, mescla elementos de soap opera com sitcom, resultando numa espécie de sitsoap acidamente irônica.
The Windsors imagina Charles, Camilla, Wills, Kate, Harry e membros B da Royal Family como personagens daquelas novelonas típicas do universo anglo-saxão, tipo The Colbys (pra ficar num exemplar cujo nome também é sobrenome).
Camilla é a vilã alcóolatra que a todo momento cria armadilhas pra derrubar a nora, a boazinha Kate Middleton, que vê o bem em tudo, como seu idealista maridão Príncipe William, que pilota helicóptero pra ajudar os súditos, mas é tão fora da realidade que se espanta quando lhe dizem que são as próprias mães que alimentam os filhinhos e não as babás.
E são assim os 12 engraçados capítulos, que a Netflix adicionou ao catálogo em dezembro, inclusive com o especial de Natal, quando até Camila ajuda a salvar o data, com referência a Charles Dickens e tudo.
The Windsors não é nada intelectualizada, que não fique dúvida, mas é terrivelmente gargalhável, especialmente quando se conhecem algumas especificidades como a chiqueza de se alongarem as vogais, daí não dá pra aguentar o sotaque das inúteis princesas Beatrice e Eugenie, impagáveis vivendo na órbita bem externa da Família, que titio Charles, na vida real, está limitando a apenas o seu núcleo. Basta notar as aparições mais recentes no balcão de Buckingham pra ver como diminuiu a gentarada.
Mesmo que esses detalhes sejam desconhecidos, dá muito bem pra entender e rir das origens ciganas de Kate, do analfabetismo de Harry, do total nonsense de Charles, da biscatice viperina de Pippa (a maneira como pronunciam Pippa, beeeem posh, é risível, amo!).
Apenas a Rainha e a finada Diana são poupadas, aposto que por razões bem diferentes. O Príncipe Philip não aparece, mas, como sempre será um estrangeiro, sua avançada idade não impede que seja alvo do deboche. Suas missivas endereçadas a distintos personagens são lidas de vez em quando e constituem um show de vulgaridade vocabular a parte.
Não me lembro de já haver me perguntado se a família real assiste ás representações de si mesma, mas durante The Windsors, entre risadas, imaginava se viam o show que os pinta como bando de sanguessugas inúteis, mas que trazem um montão de turistas à Inglaterra e movimentam o comércio das canecas comemorativas.
Mesmo que algum deles assista, deve ficar muito triste em uma de suas férias na Suíça, pagas pelo contribuinte.

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