Roberto Rillo Bíscaro
Dia 19 de janeiro, a Netflix adicionou produção própria
de suspense/horror a seu catálogo: Vende-se Esta Casa, escrito e dirigido por Matt
Angel e Suzanne Coote e estrelado por Dylan Minnette, o sofredor Clay, de 13 Reasons Why. Parece que o ator está se especializando em sofrência, porque aqui
também come o pão que o diabo amassou. O problema é que para o telespectador, o
alimento está murcho.
Depois de ver seu pai ser atropelado, Logan e sua mãe
não têm mais dinheiro e topam passar temporada numa enorme casa isolada no frio
norte estadunidense. A propriedade é da tia de Logan e está à venda, por isso,
de vez em quando ele e a mãe teriam que desocupá-la para que potenciais
compradores (ou curiosos...ou mal intencionados...) o visitassem, daí o título
original, The Open House. Coisas estranhas começam a acontecer na casa,
especialmente após a primeira dessas visitações. Será que alguém ficou lá? Será
fantasma? Será que mãe ou filho está perturbado e surtou psicoticamente? Ou
será só promessa, que no fim não se cumpre? Aposte nesta alternativa.
Vende-se Esta Casa é inteiramente composto de clichês
de diversos sub-subgêneros do suspense/horror, nas suas variações de filmes de
casa mal-assombrada; home invasion films,
além das pequenas cidades povoadas por gente esquisita. Vende-se Esta Casa nem
mostra a cidade, embora um indivíduo diga que há muitas crianças lá. Onde, se
nem casas vemos?!
Tem porão labiríntico; escada com degrau quebrado, cujo
defeito é convenientemente esquecido logo depois; e, sobretudo, um par de
personagens bem estranhos, mas típicos de filmes assim: a velha vizinha
amigavelmente intrometida e o bofe simpático, sempre pronto a oferecer ajuda e
presente em encontros acidentais. E qual a função dramática deles? Se alguém
descobrir, me conta. É tudo apenas clima: é celular e cumbuca com pipoca que
desaparecem, é silhueta sinistra e é lentidão narrativa.
No ato final, tudo se acelera. Na falta de algum grande
desfecho, apela-se para a velocidade e um minuto de tortura, afinal, vivemos em
um mundo pós-Jogos Mortais, então essa influência se mistura com a de Os
Estranhos. Quem não tiver dormido até então, ouvirá som de dedos quebrados.
Vende-se Esta Casa não tem fim decente e despreza
possíveis caminhos para os quais aponta. Por que afirmar que o pai não se
preocupava com a família, mas não provar ou ter efeito na trama? Por que criar
uma mulher que parece fantasmagórica para nada?
Por que a Netflix investiu em roteiro tão fraco, ao
invés de usar a grana para incorporar a seu catálogo produções independentes de
horror, bem superiores a Vende-se Esta Casa?
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