terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

TELINHA QUENTE 297


Roberto Rillo Bíscaro


Dia 19 de janeiro, a Netflix adicionou produção própria de suspense/horror a seu catálogo: Vende-se Esta Casa, escrito e dirigido por Matt Angel e Suzanne Coote e estrelado por Dylan Minnette, o sofredor Clay, de 13 Reasons Why. Parece que o ator está se especializando em sofrência, porque aqui também come o pão que o diabo amassou. O problema é que para o telespectador, o alimento está murcho.

Depois de ver seu pai ser atropelado, Logan e sua mãe não têm mais dinheiro e topam passar temporada numa enorme casa isolada no frio norte estadunidense. A propriedade é da tia de Logan e está à venda, por isso, de vez em quando ele e a mãe teriam que desocupá-la para que potenciais compradores (ou curiosos...ou mal intencionados...) o visitassem, daí o título original, The Open House. Coisas estranhas começam a acontecer na casa, especialmente após a primeira dessas visitações. Será que alguém ficou lá? Será fantasma? Será que mãe ou filho está perturbado e surtou psicoticamente? Ou será só promessa, que no fim não se cumpre? Aposte nesta alternativa.

Vende-se Esta Casa é inteiramente composto de clichês de diversos sub-subgêneros do suspense/horror, nas suas variações de filmes de casa mal-assombrada; home invasion films, além das pequenas cidades povoadas por gente esquisita. Vende-se Esta Casa nem mostra a cidade, embora um indivíduo diga que há muitas crianças lá. Onde, se nem casas vemos?!

Tem porão labiríntico; escada com degrau quebrado, cujo defeito é convenientemente esquecido logo depois; e, sobretudo, um par de personagens bem estranhos, mas típicos de filmes assim: a velha vizinha amigavelmente intrometida e o bofe simpático, sempre pronto a oferecer ajuda e presente em encontros acidentais. E qual a função dramática deles? Se alguém descobrir, me conta. É tudo apenas clima: é celular e cumbuca com pipoca que desaparecem, é silhueta sinistra e é lentidão narrativa.

No ato final, tudo se acelera. Na falta de algum grande desfecho, apela-se para a velocidade e um minuto de tortura, afinal, vivemos em um mundo pós-Jogos Mortais, então essa influência se mistura com a de Os Estranhos. Quem não tiver dormido até então, ouvirá som de dedos quebrados.

Vende-se Esta Casa não tem fim decente e despreza possíveis caminhos para os quais aponta. Por que afirmar que o pai não se preocupava com a família, mas não provar ou ter efeito na trama? Por que criar uma mulher que parece fantasmagórica para nada?

Por que a Netflix investiu em roteiro tão fraco, ao invés de usar a grana para incorporar a seu catálogo produções independentes de horror, bem superiores a Vende-se Esta Casa?

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