quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

TELONA QUENTE 222


Roberto Rillo Bíscaro

Terra de atores e atrizes reverenciados, como Dames Judi Dench e Maggie Smith; diretores metidos a chiquérrimos como James Ivory; aquele sotaque que se ouve em Harry Potter, idealizado como de toda a população, a Inglaterra é frequentemente associada ao esnobismo e produtos de alta classe. Ingenuidades redutolas (Cebolinha ajudando a neologizar, yeah!), tipo, o inglês norte-americano tem mais gírias; na Inglaterra tem mais “cultura” não veem a enxurrada de vulgaridade e tosquice saídas das terras de Elizabeth II.
O documentário British B-Movies: Truly, Madly, Cheaply! (2008), da BBC, abre olhos de idealizadores e é útil pra interessados em começar a conhecer uma história mantida no subterrâneo, inclusive e especialmente, por parcela do establishment britânico, ao qual interessa a manutenção da visão pristina do Reino como bastião do gosto requintado.
Como em Magic, Murder and Monsters: The Story of British Horror and Fantasy (2007), British B-Movies (BBM) vai até os anos 1980, quando o thatcherismo cortou subsídios da indústria cinematográfica – abusivamente usados até pra produzir pornôs. Diferentemente dos filmes de horror/fantasia, o documentário não aponta renascimento.
Mesmo sem aprofundar a questão, BBM também inicia problematização do conceito de filme B, que hoje meio que percebemos como produção de baixo orçamento, mas que, como qualquer coisa, passa por distintos entendimentos e significações ao longo de sua história. Por exemplo, nos anos 1930 e 40, os quickies eram exibidos antes de produções principais, geralmente ianques, mas nos 50, filmes de invasão alienígena de baixo orçamento eram o ponto alto da seção. Assim, o conceito de “B” não pode ser o mesmo nessas situações hierárquicas distintas.
Outra virtude de BBM é sua visão panorâmica que engloba até dramas, comédias do tempo da Segunda Guerra e contrapontos da visão glamorosa que o cine estrelado pelos Oliviers e Gielguds queriam passar da Inglaterra e a representação da violência, tédio, ignorância e sem-gracismo que o baixo orçamento dos filmes B acabava exibindo.
Apesar da precariedade técnico-artística de um bocado de produções, não dá pra deixar de perceber que cotas de exibição e incentivos fiscais evitaram o total falecimento da indústria cinematográfica, como ocorrido em alguns outros países europeus.

British B-Movies: Truly, Madly, Cheaply! está completo e sem legendas. Bora treinar um pouco nosso cockney?

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