Roberto Rillo
Bíscaro
Destino Lua (também conhecido como A Conquista da Lua)
foi considerado o primeiro filme inteligente de ficção-científica, por Isaac
Asimov. A produção independente, de 1950, teve orçamento alto e explosão de
cores Technicolor, raros entre os tantos filmes sci fi dos 50’s. Também atipicamente preocupado com acuidade
científico-tecnológica, Destination Moom teve seu esmero recompensado com Oscar
de efeitos visuais.
Destination Moon é caprichado desde os créditos iniciais,
que rolam pela tela em direção ao infinito, como faria Guerra Nas Estrelas, 27
anos depois. Lembram como George Lucas foi deveras influenciado pelos filmes da década?
Tudo começa com a explosão dum foguete patrocinado pelo
governo, que perante rejeição da opinião pública com os gastos e perigo de
óbitos, se exime de prosseguir com o programa espacial. Cabe a um general
convencer um industrial patriótico a persuadir seus colegas empresários a
construírem um foguete pra lua. Reticentes no início, os capitalistas são
convencidos com argumento bem simples e mais explícito impossível: a primeira
nação que conquistar a lua dominará a Terra, pois poderia usar nosso satélite
natural como base pra lançamento de mísseis. Destination Mooon esclarece que
dissenção da imprensa é orquestração ideológica e que a iniciativa privada deve
liderar a corrida espacial por motivos puramente patrióticos, lucros jamais são
citados. Muito como os argumentos reais usados na parte documental da recente
docussérie Marte, da NetGeo. 60 anos se passaram mesmo?
Apesar de jamais poder ser enquadrado como tal, Destino
Lua é avô do docudrama Marte (disponível na Netflix), com o qual compartilha
mais em comum do que o aludido. Destination Moon buscou assessoria científica,
então, há até animação do Picapau explicando facilmente o sistema de propulsão
à explosões de um foguete e as dificuldades causadas pela gravidade zero. Até
se mostra que o som não se propaga no espaço, quando o pássaro tenta falar, mas
a acuidade vai pro espaço, quando abre a porta da espaçonave sem
despressurização, mas pra acusar o filme seria necessário saber se a ciência já
sabia que o ar escaparia todo e isso não posso afirmar.
Embora Destino Lua seja bastante correto com o que se
conhecia na época, ainda assim era um filme direcionado a fazer dinheiro e
entreter, então liberdades tinham que ser tomadas e isso implicou em sua maior
barbeiragem: a inclusão do alívio cômico Joe, que nada alivia, só complica.
Falar na imprensa que se era contra a corrida espacial
era “ideológico”, mas escalar piloto que não acreditava na viagem à lua não
representava problema, afinal, os EUA são a terra da liberdade de expressão.
Joe funciona um pouco como o público, uma vez que algumas dúvidas de leigos são
ventiladas através da personagem, cujo nome é o mesmo do da expressão “regular
Joe”, caracterizadora do mais mediano que um sujeito anglófilo pode ser. Joe
toca até gaita, olha o tamanho do clichê! Mas, imagine que alguém que
desconheça até mesmo o mais geral das viagens espaciais seria escalado pruma
missão assim! Ele poderia colocá-la em perigo, como o faz no episódio da antena
externa. Claro que isso possibilita andada pelo espaço, o que deve ter sido
maluco pras plateias cinquentistas, mas tira um pouco da credibilidade, embora
não manche o status de clássico de Destination Moon.
O que pode ter passado despercebido pra muita gente é
que a construção linguística desviante e algo ignorante de Joe acaba passando mensagem
bem menos simpática: quem não acredita na possibilidade da exploração espacial
é apenas jecas estúpidos, que precisam ser convencidos da maneira mais concreta
possível, porque só assim conseguem entender. Considerando-se que Joe era o elo
com o público “comum”... tire suas conclusões.
O bonachão, Joe, porém, não poderia estar melhor
encaixado no prospecto otimista em que se enquadra a película, que enxerga a
energia atômica como motor da exploração espacial. Em “boas mãos” (no sentido
de apenas duas mesmo: as dos EUA) essa energia manteria a paz na Terra, que -
com apoio patriótico das empresas e a boa vontade otimista de aprender de seus
cidadãos “comuns” – se lançaria na árdua, mas perigosa conquista do espaço.
Terra = EUA, tá? E a lua seria apenas o começo, como atesta o letreiro do The
End, então afixado em todos os filmes. Neste lê-se “este é O FIM...do início”.
Assertividade empreendedora nível hard.
Destino Lua tem lentidão de
lesma pros padrões contemporâneos, mas pra fãs de ficção-científica “séria” é
marco obrigatório de ver.
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