segunda-feira, 19 de março de 2018

CAIXA DE MÚSICA 306


Roberto Rillo Bíscaro

Taproban era o antigo nome da ilha onde se localiza o Sri Lanka. Também é banda de rock progressivo formada em 1996, em Roma. A história do atual trio é cheia de câmbios na formação e hiatos, então basta dizer que nessas mais de duas décadas, os italianos têm sido influenciados pelo prog clássico dos anos setenta, especialmente pela vertente tecladeira do subgênero. Além disso, as viagens espaciais e sagas de ficção-científica desempenham papel importante nas composições.
A formação atual tem Gianluca De Rossi teclados e vocais), Roberto Vitelli (baixo e guitarra) e Ares Andreoni (bateria e percussão). Ano passado, lançaram o quinto álbum, Per Aspera Ad Astra, citação latina que significa literalmente: «por ásperos (caminhos) até aos astros», metaforizando chegar à glória por caminhos difíceis. A odisseia espacial humana continua inspirando, desta vez enfatizando as agruras, homenageando os astro/cosmonautas esfacelados para que a humanidade atinja outros mundos.
Per Aspera Ad Astra (PAAD) é predominantemente instrumental; dos cerca de 51 minutos das nove faixas, uns 5 ou 6 apenas têm vocais, em inglês ou italiano. Se Roberto Vitelli também não tocasse baixo, ficaria quase sem trabalho. PAAD é, em sua maior parte, longa sucessão de solos e momentos de diferentes teclados vintage analógicos, como Moog, MiniMoog, Hammond, que dão a sonoridade setentista imperante. Fãs de corredeiras e cascatas tecladísticas se fartarão com o domínio de Gianluca de Rossi.
Até o descontextualizado solo de saxofone, em Nexus, parece se tratar de longa suíte dividida em movimentos, típico da escola prog dos áureos dias. Meio Kenny G, o solo soa fora de lugar, porque remete mais à cena do muzak da saxodécada.
Essa faixa fecha com a suposta última gravação do cosmonauta russo Vladimir Komarov, incinerado, quando a Soyouz 1 entrou na atmosfera terrestre com a velocidade dum meteoro e o paraquedas não abriu, porque o projeto fora (mal-)feito às pressas pra agradar o Camarada Leonid Brejnev, que ansiava usar o voo pra celebrar os 50 anos da revolução de 1917. Momentos antes de ser incendiado vivo, Komarov soltou os cachorros e chorou de desespero pra base moscovita. Não sei se a gravação utilizada pelo Taproban é real, porque há versões apócrifas rolando há anos e jamais tive coragem de ouvir nem a real; meu apetite por desespero é saciado pelos filmes de terror. Não se preocupem os mais sensíveis: é tão baixinho que nem dá pra sacar ser alguém em seus momentos finais de agonia. Acho que se eu não contasse, você nem sacaria. Mais um detalhe desta história triste: Komarov foi velado em caixão aberto; imagine o pedaço de carvão que restou depois do impacto contra o solo. Pior é que tem até foto facilmente acessível online; e a vi sem querer...Ugh!
Depois vem outro equívoco. A pobre melodia de D.I.A.N.A., que muda o teclado prum oitentista Rolland (parece), daí a canção fica deslocada no universo anos 70, além de boba e repetitiva.
O clima e sonoridade setentista são retomados em Agata Lost in the Mirror Whale, onde uma grande sacada poderá acontecer para alguns ouvintes. É a única canção onde ocorre interplay entre linda guitarra plangente e teclado fininho à Jarré. O prog mais emocionante e vibrante ocorre quando existe profusão de ou intensa simbiose entre distintos instrumentos. Embora, o resto de PAAD mimetize bem com a tecladeria de Giancarlo diversos aspectos da corrida espacial, é a curta Agata Lost in the Mirror Whale que consegue emocionar mais do que tudo no álbum.

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