Roberto Rillo Bíscaro
Merlí deve ter feito sucesso, porque o intervalo entre
a colocação no catálogo da temporada um e da dois foi de um ano, ao passo que
poucas semanas após terminar na Espanha, a Netflix já disponibilizava os 14
capítulos finais da série catalã, que terminou por lá em janeiro. Olha que
rápida é esta Netflix, quando lhe interessa!
Os seletos alunos escolhidos pra ganhar a atenção do
professor de filosofia estão no derradeiro ano do ensino médio. Merlí, como
prática docente, é impossível, porque além de cuidar apenas duma sala, interage
com meia dúzia de alunos. Os demais são figurantes e ficam quietinhos enquanto
Merlí explica. Não dá pra deixar de discutir que a série, considerando seus limites
formais, acaba negando a possibilidade de educação de massa e exclui mesmo
alunos da única sala para qual o professor leciona. Igualzinho como nós -
simples e pobres docentes ultrapassados - somos acusados de fazer: dar atenção
apenas pros alunos mais notáveis...
Num mundo até de adultos cada vez mais com mentalidade
miguxa, é preciso deixar claro: Merlí é uma série de TV apenas. Não adianta
querer docentes merlinescos, sem as condições de possibilidade da personagem. O
próprio ator Francesc Orella sabiamente esclareceu isso pros deslumbrados, em
entrevista a um periódico argentino.
Isso (re)posto, sigamos.
Quase adultos, os adolescentes de Barcelona agora têm
dilemas mais complexos e graves do que nas temporadas anteriores. Nesse
sentido, a terceira é um pouco mais sombria, mas não perde a graça. Sexualidade
fluida, drogas e roubo estão entre os temas abordados, mediante ligação com as
ideias do filósofo abordado em aula. Seria interessante ver como os fãs
reagiriam se seus filhos tivessem na escola da vida real um professor cross dresser, como Quima.
Merlíi continua
contraditório, inclusive enciumado com a nova professora de História, que
aplica métodos criativos e interativos de ensino e conquista os alunos. Mas,
como o show leva o nome de Merlí,
tudo é urdido pra que ele se sobressaia. Numa série que não vê a competição com
muito bons olhos, ninguém pode competir com seu protagonista.
Merli, o seriado, tem
vários pontos de estrangulamento, mas é isso que a deixa tão interessante. E
não há que reclamar, quando se lhe levantam questionamentos, afinal, não era
isso que o professor insistiu durante três temporadas?
Além das personagens
adolescentes menos estereotipadas e da própria contraditoriedade do professor,
que o dimensiona numa condição mais humana. Foi um prazer ter estudado três
anos com esses meninos e meninas e com Merlí.
E prepare-se prum último
capítulo inesperado, que exigirá lenços, mas que lacrará encerrando com
Galletas, do La Casa Azul. Quer coisa mais otimista e que prova que a despeito
da passagem de tempo, que inevitavelmente traz dor e perda, vale muito a pena
viver?
Un rayo de sol vuelve a
brillar
en mi corazón hay algo
mejor
que todo lo que había ayer
ya no hay fotografías
ni grises nubes ni tenues
días
llorando en navidad
Hoy vuelvo a pasear por mi
ciudad
pisando hojas secas
y merendando galletas .
No sé si sabes
que ya no te quiero
que ni siquiera te echo de
menos
y aunque tú creas
que he perdido el tiempo
he construido un gran
mundo en un rayo de sol
Lo mejor de todo es que al
final
siempre hay una canción
para poder cantar y
fabricar mil sueños
que borren los recuerdos y
escondan aquellos miedos
que me asustaban
Volverá a nevar por
navidad
hoy vuelvo a pasear por mi
ciudad
pisando hojas secas
y merendando galletas.
Muito bom, Roberto.Ainda não consegui decifrar o professor, mas está instigando questionamentos! Abraço e obrigada pela resenha. Patrícia Prado
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