terça-feira, 6 de março de 2018

TELINHA QUENTE 299



Roberto Rillo Bíscaro

Merlí deve ter feito sucesso, porque o intervalo entre a colocação no catálogo da temporada um e da dois foi de um ano, ao passo que poucas semanas após terminar na Espanha, a Netflix já disponibilizava os 14 capítulos finais da série catalã, que terminou por lá em janeiro. Olha que rápida é esta Netflix, quando lhe interessa!
Os seletos alunos escolhidos pra ganhar a atenção do professor de filosofia estão no derradeiro ano do ensino médio. Merlí, como prática docente, é impossível, porque além de cuidar apenas duma sala, interage com meia dúzia de alunos. Os demais são figurantes e ficam quietinhos enquanto Merlí explica. Não dá pra deixar de discutir que a série, considerando seus limites formais, acaba negando a possibilidade de educação de massa e exclui mesmo alunos da única sala para qual o professor leciona. Igualzinho como nós - simples e pobres docentes ultrapassados - somos acusados de fazer: dar atenção apenas pros alunos mais notáveis...
Num mundo até de adultos cada vez mais com mentalidade miguxa, é preciso deixar claro: Merlí é uma série de TV apenas. Não adianta querer docentes merlinescos, sem as condições de possibilidade da personagem. O próprio ator Francesc Orella sabiamente esclareceu isso pros deslumbrados, em entrevista a um periódico argentino.
Isso (re)posto, sigamos.
Quase adultos, os adolescentes de Barcelona agora têm dilemas mais complexos e graves do que nas temporadas anteriores. Nesse sentido, a terceira é um pouco mais sombria, mas não perde a graça. Sexualidade fluida, drogas e roubo estão entre os temas abordados, mediante ligação com as ideias do filósofo abordado em aula. Seria interessante ver como os fãs reagiriam se seus filhos tivessem na escola da vida real um professor cross dresser, como Quima. 
Merlíi continua contraditório, inclusive enciumado com a nova professora de História, que aplica métodos criativos e interativos de ensino e conquista os alunos. Mas, como o show leva o nome de Merlí, tudo é urdido pra que ele se sobressaia. Numa série que não vê a competição com muito bons olhos, ninguém pode competir com seu protagonista.
Merli, o seriado, tem vários pontos de estrangulamento, mas é isso que a deixa tão interessante. E não há que reclamar, quando se lhe levantam questionamentos, afinal, não era isso que o professor insistiu durante três temporadas?
Além das personagens adolescentes menos estereotipadas e da própria contraditoriedade do professor, que o dimensiona numa condição mais humana. Foi um prazer ter estudado três anos com esses meninos e meninas e com Merlí.
E prepare-se prum último capítulo inesperado, que exigirá lenços, mas que lacrará encerrando com Galletas, do La Casa Azul. Quer coisa mais otimista e que prova que a despeito da passagem de tempo, que inevitavelmente traz dor e perda, vale muito a pena viver?

Un rayo de sol vuelve a brillar
en mi corazón hay algo mejor
que todo lo que había ayer
ya no hay fotografías
ni grises nubes ni tenues días
llorando en navidad

Hoy vuelvo a pasear por mi ciudad
pisando hojas secas
y merendando galletas .

No sé si sabes
que ya no te quiero
que ni siquiera te echo de menos
y aunque tú creas
que he perdido el tiempo
he construido un gran mundo en un rayo de sol

Lo mejor de todo es que al final
siempre hay una canción
para poder cantar y fabricar mil sueños
que borren los recuerdos y escondan aquellos miedos
que me asustaban

Volverá a nevar por navidad
hoy vuelvo a pasear por mi ciudad
pisando hojas secas
y merendando galletas.

Um comentário:

  1. Muito bom, Roberto.Ainda não consegui decifrar o professor, mas está instigando questionamentos! Abraço e obrigada pela resenha. Patrícia Prado

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