Roberto Rillo Bíscaro
Desde que me apaixonei pelo detetive diletante de Down Under, o Dr. Blake, minha curiosidade estava atiçada por Miss Fisher's Murder
Mysteries (MFMM), claramente inspiração pra série de Craig McLachlan, porque a
pré-data em um ano. Ambas são “de época” e trazem investigadores amadores
resolvendo casos mirabolantes numa Austrália não necessariamente cozinhando em
calor, então é muito casacão e céu nublado.
Miss Fisher's Murder Mysteries estreou em 2013 e teve
três temporadas, resultando em 34 episódios, meio escondidos no catálogo da Netflix, sem nem
dublagem em português, o que espanta muita gente, porque o Brasil não curte
muito ler. EUA e Inglaterra também preferem produtos em sua língua nativa, então
poupemo-nos do complexo de vira-lata.
Protagonizada por Phryne Fisher, personagem literária
criada pela escritora australiana Kerry Greenwood, MFMM se passa na Melbourne
de 1929, onde a ricaça, sexualmente liberada e multitalentosa Miss Fisher deixa
o inspetor Jack Robinson maluco com suas intromissões sempre certeiras em casos
de assassinatos, que envolvem aranhas em sapatos e coisas divertidas do gênero.
MFMM é o tipo de série policial na qual a morte é pura diversão familiar; é
crime do bem. Nada de investigadores mais atormentados do que os criminosos.
MFMM é utopia liberal, onde comunistas convivem com ricaças e moçoilas
católicas ficam mais liberadas após contato com a descolada Miss Fisher.
Lembra muito as séries clássicas de detetives amadores
que, de certa forma, desabonam o trabalho coletivo da polícia, tipo Casal 20 ou
Murder, She Wrote, dentre tantos exemplos. O mundo anglófono ama essas séries
até hoje, vide Grandchester.
Uma diferença entre o cardápio contemporâneo de
diletantes detetives e tantos outros do passado, é que muitos assassinatos vem
embalados por situações “históricas” ou “sociais”, seja a Revolução Russa ou a
Primeira Guerra, seja a liberação feminina ou dissensões religiosas. Jessica
Fletcher ou o casal Hart viviam num mundo onde não necessitavam conhecer
História, Miss Fisher e o Dr. Blake, sim. Mas, é ilusão, porque no fim, tudo é
sempre reduzido a alguma questão pessoal primal, como ciúme ou vingança. Essa
pseudoadição de conteúdo histórico fica mais evidente, quando se leva em conta
que apesar de estar congelada em 1929 durante as 3 temporadas, MFMM jamais é
afetada pela grave crise que abalou o capitalismo naquele ano.
Nada disso importa, porém, porque MFMM é pra entreter
após o jantar. Como Phryne é podre de rica e a década de 1920 ligada à
opulência - 1929 é simbolicamente o fim da festa – o show é um encanto retrô na
trilha-sonora jazzística espevitada; nos vestuários glamorosos, naquele jeitão
de série antiga, que não mostra muita nojeira e até o final tem formato de cine
mudo, quando a filme terminava com a imagem sendo tragada pela negro, em forma
de círculo. Tem episódio que é até em forma de coração. Awn!
Ao final do primeiro episódio já estamos apaixonados
pelo Constable Collins e por Dot e mesmo Tia Prudence não demora a ficar um
amor. E o que dizer duma série onde o mordomo se chama Mr. Butler?
Essie Davis, de The Babadook e Game Of Thrones, é um deslumbre como a feminista Phryne Fisher, que
mesmo atuando como detetive particular há 90 anos, quase não se deparava com
comentários machistas. O problema era sempre com e dos outros: Miss Fisher
podia tudo, a não ser com o pai malandro. Mas, isso também não conta, porque
MFMM é diversão charmosa, que tomara realmente ganhe o(s) longa-metragem(ns)
prometido(s).
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