Roberto Rillo Bíscaro
O mercado de TV reconfigura-se rapidamente aos novos
tempos globalizados, quando empresas de streaming, a possibilidade de ver tudo
online e a cornucópia de produtoras em países, antes “distantes, como Ucrânia e
Estônia, despejam baldes de séries. É tanta coisa, que existe tendência de
temporadas mais curtas e até capítulos mais enxutos. Tudo é célere, há
superabundância de ofertas e espectadores não temos tempo de seguir temporadas
com 20 e poucos episódios. Sem contar que uma dúzia pode ser mais barato que 24
ou se pode caprichar mais na produção.
A dezena de excitantes capítulos de Missions (2017)
representa bem essa confluência de fatores. Muito bem produzida pela TV paga
francesa OCS City, o show coloca o país europeu no mapa das boas produções de
ficção-científica pra TV, com capítulos que duram concisos 20 e poucos minutos,
feitos sob medida pra maratona, porque também cheios de suspense e
despertadores de curiosidade pra saber o que acontecerá no próximo episódio.
Fugindo do tom de guerra intergaláctica ou exploração
otimista da fronteira final, Missions está mais em sintonia com uma tradição
cinematográfica de ficção-científica espacial, um bocadinho distópica,
abordando temas como inteligência artificial, lapsos espaço-temporais e
comercialização da exploração sideral. Mas, de forma acessível e viciante. Fãs
de cine sci fi reconhecerão elementos de filmes desde a década de 1950, até
coisas recentes, como O Marciano ou Interestelar.
A primeira missão tripulada à Marte aproxima-se do
planeta vermelho, mas, pouco antes do pouso, vídeo desanimador revela que os
franceses foram batidos pelos onipresentes norte-americanos, pois uma empresa
descobrira propulsor mais poderoso. Como se não bastasse, o curto vídeo adverte
aos tripulantes que abortem a aterrisagem, porque o planeta é perigoso demais.
Claro que o comandante desconsidera o aviso – senão não
haveria série – e, depois de pouso desastrado, os franceses encontram os
escombros da nave ianque, mas, perto deles um sobrevivente, que revelará grande
surpresa.
Missions utiliza a tradição da boa ficção-científica e
elementos reais da exploração espacial numa narrativa misteriosa, tensa, bem
filmada, cativante e inteligente. Não dá pra dizer que seja original, mas é excitante,
primordial numa série assim. O criador Julien Lacombe demonstra conhecimento
enciclopédico do subgênero e da corrida espacial. Por exemplo, quem conhece a
trágica história do cosmonauta russo Vladimir Komarov vai sentir a pele
arrepiar numa das revelações.
O potencial de Missions é tamanho que o serviço de
streaming Shudder – especializado em horror, suspense e sci fi – cofinanciará a
segunda temporada. Mal posso
esperar.
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