terça-feira, 27 de março de 2018

TELINHA QUENTE 302


Roberto Rillo Bíscaro

Andava maluco pra ver a segunda temporada de Bajo Sospecha, exibida pela Antena 3, entre fevereiro e março de 2016. Curioso como a imprensa e as próprias redes espanholas sabotam a produção nacional, seja com críticas sempre negativas no caso da primeira, seja com exibição errática, no caso das segundas. Diz-se que a minissérie estava indo bem de audiência até que a emissora cambiou a noite de exibição, o que reduziu o número de expectadores. Síndrome de vira-lata não é exclusividade brasuca.
Passei os 10 primeiros dias de 2018 na Argentina, acompanhado de meu tablet com o app da Netflix e pra minha surpresa os 10 episódios da segunda temporada apareceram como indicação. Não hesitei e baixei-os pra desfrutar off-line.
Enquanto a primeira temporada (resenhada aqui) se passava no Nordic (Noir) espanhol, a ação da segunda transfere-se pra claustrofobia dum grande hospital madrilenho. Uma médica francesa desaparece e em seguida uma enfermeira é assassinada e outra sequestrada. Hora de infiltrar policiais no enorme edifício pra descobrir as inúmeras tramas paralelas, que às vezes podem ter relação com a central. Lá dentro, grande teia de mentiras será descoberta, como de praxe nos thrillers espanhóis, que a imprensa local critica por serem inverossímeis, o que precisamente me encanta neles.
Novamente, Victor Reyes, com sua cabeleira esculpida, será o policial disfarçado lá dentro, desta feita de enfermeiro. À parte dele, apenas seu pai, o Comissário Casas e o sarcasticamente humorado Inspetor Vidal remanescem da temporada inicial. Vidal foi tão amigavelmente escroto, que deve ter cativado o público (eu o amo): apenas isso justifica sua presença longe de sua Cienfuegos. A policial Laura Cortés – cuja atriz fora massacrada pela crítica – desapareceu da equação. Mas, como o caso envolve francesa de pais graúdos, uma comissária à Saga Norén vai codirigir a investigação com o espanhol Casas. Sob suas ordens, um detetive francês, infiltrado no corpo clínico como médico.
É na relação e nas trocas verbais entre os policiais franceses e espanhóis que reside um dos aspectos mais antropologicamente curiosos de Bajo Sospecha. A afirmação de que a Europa começa depois dos Pirineus está escancarada ali, escrita por roteiristas espanhóis!
Outra graciosidade – provavelmente involuntária – é que a relação erótico-amorosa entra Victor e a Dra. Belén não tem um terço da voluptuosidade das trocas de olhares e toques do investigador Vitor e do francês, Alain, no começo inamistosos, mas com o tempo viram camaradas.
Com relação à trama, Bajo Sospecha prende o interesse com seus vários suspeitos e reviravoltas ao som de insistente trilha tensa. Pena que o fecho careça de força dramática. Dizendo d’outro modo: quando descobrimos, porque tudo aconteceu, difícil não exclamar: ”tantas mortes, mentiras e sequestros, por isso? Por que não procuraram a polícia logo duma vez?” Mas, se o tivessem feito, não haveria história pra nos entreter e o durante compensa o final em sua maior parte. O elenco é ótimo, inclusive com a adição de Concha Velasco, que faz personagem idêntica à Doña Carmen Cyfuentes, de Telefonistas (essa na Netflix brasileira).  
O que pode desagradar e cansar alguns é que os produtores não aprenderam com a primeira temporada e mantiveram os capítulos de 70 minutos e dessa vez sequer editaram pra que tivesse 8 episódios, como a primeira. São 10 e às vezes a peteca cai.

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