Roberto Rillo Bíscaro
Andava maluco pra ver a segunda temporada de Bajo Sospecha, exibida pela Antena 3, entre fevereiro e março de 2016. Curioso como
a imprensa e as próprias redes espanholas sabotam a produção nacional, seja com
críticas sempre negativas no caso da primeira, seja com exibição errática, no
caso das segundas. Diz-se que a minissérie estava indo bem de audiência até que
a emissora cambiou a noite de exibição, o que reduziu o número de expectadores.
Síndrome de vira-lata não é exclusividade brasuca.
Passei os 10 primeiros dias de 2018 na Argentina,
acompanhado de meu tablet com o app da Netflix e pra minha surpresa os 10
episódios da segunda temporada apareceram como indicação. Não hesitei e
baixei-os pra desfrutar off-line.
Enquanto a primeira temporada (resenhada aqui) se
passava no Nordic (Noir) espanhol, a ação da segunda transfere-se pra
claustrofobia dum grande hospital madrilenho. Uma médica francesa desaparece e
em seguida uma enfermeira é assassinada e outra sequestrada. Hora de infiltrar
policiais no enorme edifício pra descobrir as inúmeras tramas paralelas, que às
vezes podem ter relação com a central. Lá dentro, grande teia de mentiras será
descoberta, como de praxe nos thrillers espanhóis, que a imprensa local critica
por serem inverossímeis, o que precisamente me encanta neles.
Novamente, Victor Reyes, com sua cabeleira esculpida,
será o policial disfarçado lá dentro, desta feita de enfermeiro. À parte dele,
apenas seu pai, o Comissário Casas e o sarcasticamente humorado Inspetor Vidal
remanescem da temporada inicial. Vidal foi tão amigavelmente escroto, que deve
ter cativado o público (eu o amo): apenas isso justifica sua presença longe de
sua Cienfuegos. A policial Laura Cortés – cuja atriz fora massacrada pela
crítica – desapareceu da equação. Mas, como o caso envolve francesa de pais
graúdos, uma comissária à Saga Norén vai codirigir a investigação com o
espanhol Casas. Sob suas ordens, um detetive francês, infiltrado no corpo
clínico como médico.
É na relação e nas trocas verbais entre os policiais
franceses e espanhóis que reside um dos aspectos mais antropologicamente
curiosos de Bajo Sospecha. A afirmação de que a Europa começa depois dos
Pirineus está escancarada ali, escrita por roteiristas espanhóis!
Outra graciosidade – provavelmente involuntária – é que
a relação erótico-amorosa entra Victor e a Dra. Belén não tem um terço da
voluptuosidade das trocas de olhares e toques do investigador Vitor e do
francês, Alain, no começo inamistosos, mas com o tempo viram camaradas.
Com relação à trama, Bajo Sospecha prende o interesse
com seus vários suspeitos e reviravoltas ao som de insistente trilha tensa.
Pena que o fecho careça de força dramática. Dizendo d’outro modo: quando
descobrimos, porque tudo aconteceu, difícil não exclamar: ”tantas mortes,
mentiras e sequestros, por isso? Por que não procuraram a polícia logo duma
vez?” Mas, se o tivessem feito, não haveria história pra nos entreter e o
durante compensa o final em sua maior parte. O elenco é ótimo, inclusive com a
adição de Concha Velasco, que faz personagem idêntica à Doña Carmen Cyfuentes,
de Telefonistas (essa na Netflix brasileira).
O que pode desagradar e
cansar alguns é que os produtores não aprenderam com a primeira temporada e
mantiveram os capítulos de 70 minutos e dessa vez sequer editaram pra que
tivesse 8 episódios, como a primeira. São 10 e às vezes a peteca cai.
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