Roberto Rillo Bíscaro
Nova York tem a maior comunidade de judeus ortodoxos
fora de Israel. Quando você assiste a Menashe (2017) pode até demorar pra
perceber que a história falada em ídiche se passa na Grande Maçã.
Dirigido pelo documentarista Joshua Z. Weinstein,
Menashe lucra com isso. Usando atores não profissionais e mostrando cenas
rituais da comunidade hassídica, o discreto filme fornece raro vislumbrar nesse
universo tão desconhecido pra maioria, num clima de docudrama bastante sensível
e até um pouco engraçado.
Assim como o ator homônimo que o interpretou, Menashe é
viúvo e trabalha numa mercearia. Os hassídicos seguem o Torá à letra e não
fazem nada sem consultar o rabino. Naquela tradição, crianças devem crescer em
lares com pai e mãe, então o filho de Menashe teve que ir pra casa do tio
bem-sucedido. Mas, a personagem-título encasqueta que o quer de volta e o traz
ao pequeno apartamento no Brooklyn, onde se concentra a comunidade ortodoxa.
Menashe, o homem, é simpático, meio atrapalhado,
conquista o espectador bem rápido, porque se rebela contra um costume que para
nós parece ultrapassado e tirânico. Devemos ser numericamente mais do que
judeus ortodoxos, presumo. Porém, dentro daquele universo é preciso colocar a
seguinte questão: dá pra ser ortodoxo seguindo apenas as partes que lhe convém?
Pra ter Rieven de volta, Menashe teria que procurar
casamenteira pra outro matrimônio arranjado, algo que intuímos não ter sido bom
da primeira vez, a não ser pela geração do amado filho. Então, dá pra se manter
na comunidade colocando suas ideias individuais acima das do grupo?
Menashe, o filme, não promove debates acadêmicos, mas
na história simples e cheia de olhares íntimos sobre hábitos de higiene e
vestuário hassídico, ficam palpáveis a pergunta e a resposta.
Disponível dublado na
Netflix, que tem vários filmes e séries que nos permitem conhecer melhor a
cultura judaica. Mas, não falta o mesmo com relação a países árabes, Netflix?
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