Roberto Rillo Bíscaro
Filha do roqueiro cinquentista/sessentista Marty Wilde,
Kim Wilde estreou em 1981, com o single
Kids In America e daí em diante tem tido carreira com altos e baixos. Nunca foi
estrela de primeira grandeza global, mas alcançou altas posições em paradas euro-nipo-australianas
e já abriu turnês pra majors como
Michael Jackson e David Bowie.
A britânica expandiu suas atividades e tem se mantido
na mídia B não apenas porque de vez em quando lança música, mas também como
autora de livros de jardinagem e apresentadora de programas sobre. Há uns cinco
anos, um vídeo viralizou no Youtube, mostrando Kim meio inebriada no metrô
londrino cantando Kids In America.
Não me lembro de conhecê-la nos anos 80, a não ser ter
ouvido nalguma FM, em 87/88, sua versão pro clássico das Supremes, You Keep Me
Hanging On, mas sem saber de sua história. Herege por vocação, prefiro sua
versão à de Diana Ross e amigas e no século XXI me inteirei de sua produção
pré-87, quando Blondie era a influência mor, depois substituída por Madonna (o
que não deixa de ter DNA Debbie Harry). Canções como You Came passaram a
integrar minha memória afetiva dos 80’s, como se eu as tivesse amado na época.
Alguns brasileiros reclamam que o país não tem memória,
não valoriza seus artistas mais antigos (as mesmas pessoas que também não buscam
informação sobre, só mimimizam). Parece que o Reino Unido é igual: há décadas
os álbuns de Kim Wilde não saem em sua terra natal.
A exceção fica por conta do lançamento de março deste
ano. Porém, não vi resenha/crítica do eficiente Here Come the Aliens em nenhum
órgão noticioso maior, tipo BBC ou The Guardian. Pelo menos este último trouxe
entrevista onde Kim afirma que talvez os ETs do título a estejam usando pra lançarem um álbum. Querida, eles usariam alguma estrela atual, com verdadeira
penetração midiática global, acredite.
Zoação a parte, isso é frase de efeito pra tentar
aparecer mais, especialmente porque precisava divulgar sua primeira turnê-solo
britânica em 3 décadas. Além disso, Wilde é tão simpática e o álbum tão
gostoso, que pode dizer (quase) o que quiser.
Com capa-homenagem aos filmes de ficção-científica dos
anos 1950, Here Come The Aliens traz uma dúzia de canções pop, quase
unanimemente eficazes e até pegajosas, cantadas por uma voz que ou está
preservada em formol ou foi tratada em estúdio. Parece a mesma dos 80’s!
Sem perder o pé na década que a pariu e à qual pertence
sua base de fãs, o power pop de Wilde e seu irmão Ricky é mais enraizado na
fase Blondie do que na Madge e as guitarras de vez em quando comem soltas, como
na abertura 1969 ou em A Different Story. E não é porque o público restante de
Kim deva ser prioritariamente cinquentão que não posso balançar o traseiro com
popões com temática atual como Kandy Krush, referindo-se ao popular jogo e a
Cyber Nation War, meio industrial carmina-burânica, sobre recalcados que se
aproveitam da internet pra destilar seu ódio.
Pop Don’t Stop é dueto com o mano Ricky, cujos acordes
de abertura farão os mais idosos se lembrarem de Video Killed The Radio Star,
antes de se transformar no que sugere o título: pop viciante. Yours Till The
End tem reconfortante clima Duran Duran, com baixo gordíssimo à The Promisse,
do Arcadia e um lalala que você pode tentar substituir por ‘the reflex” de vez
em quando pra se divertir. Stereo
Shot remete ao Johnny Marr, de How Soon Is Now. Solstice é o tipo
de balada que iluminaria estádios com isqueiros, em 1987, mas soa contemporânea
pela produção. Here Come the Aliens enfileira delícias po(l)pudas como Birthday
e Addicted To You, que imploram pra serem dançadas.
O único defeito é Rosetta,
a faixa de encerramento. São quase 5 minutos de sensaboria pseudo-etérea que
acaba anestesiando a sensação de um álbum até então tão bom, competente e
vibrante. Minha versão de Here Come the Alien ficou sem, porque assim termina
com Rock the Paradiso, que chega até a ensaiar abertura meio neopsicodélica à
The Mission/The Cult.
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