Duas de minhas canções pop brasileiras favoritas são
Superafim e Meeting Paris Hilton, do Cansei de Ser Sexy. Antenados devem se
lembrar de quando a banda paulistana era hipster,
tendo seus álbuns resenhados em publicações como Pitchfork e Consequence Of
Sound, excursionando pelo mundo e até entrando no Top 100 da Billboard.
Tudo ia colorido no mundo new rave até que Adriano Cintra anunciou sua saída, em 2011, e
abriu a boca do esgoto: não suportava mais o estrelismo e falta de perícia
musical das companheiras do CSS, além de lembrar aos sabe-nada-inocentes que
banda é empresa, com salário e até licença-saúde, que o empresário pode
encasquetar de não pagar, daí tem que ir pro pau, como qualquer trabalhador
mortal.
Não é segredo pros leitores que meu mundo é mais de
rock progressivo e soul music, então,
sei que Cintra formou o Madrid, mas perdi tudo de vista. Pra escrever isso,
descobri que o CSS parece congelado no âmbar, mas Madri continua sendo a
capital espanhola.
Encontrei-me com a carreira-solo de Cintra, quando
baixei o álbum Nine Times, lançado em agosto do ano passado. Li que havia
alguma influência anos 80 e isso me interessou, porque leitores também sabem o que
representa pra mim aquela década.
Embora não soe datado, pois Adriano deve beber em
fontes eletro euroianques de sua geração, o homogêneo Nine Times não é nada
alienígena a ouvidos oitentistas. Há sonoros quês de The Cure e Depeche Mode
nos arranjos sóbrios e discretos dum álbum que prioriza lentas (Collateral
Damage) e midtempos. A única dançável
é o encerramento Mouth, cuja vibe
agradará tanto à geração pós-rave, quanto dinossauros fãs da boa e velha New Order.
Cintra tem ouvido ótimo pra compor pops grudentos, como a deliciosa faixa-título e a maior parte do
álbum. Ele meio que faz um mea culpa pelo
bafão armado com suas ex-amigas, em So Sorry e em Your Crazy Eyes contrasta o
gelo de teclados com a brasa lúgubre dum baixo gótico. Mesmo lá pelo final do
álbum, que tem 13 faixas, quando a mesmice ameaça, as canções são simpáticas,
como Nevermind Me e Backfiring.
Não há maus momentos em Nine Times, outra de muitas
provas de que a música do Brasil (mesmo que toda cantada em inglês) está longe
de se restringir à sofrência ou arroubos de macheza alcoolizada, que toca nas
rádios.
E também não tem como dizê-la inacessível, posto estar
disponível de graça, no site de Adriano Cintra.
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