Produções artísticas de toda sorte ambientadas em mundo
pós-apocalipse nuclear estão longe de ser novidade. Mas, no início dos anos
1950, quando o mundo ocidental ainda estava meio maravilhado com as potencialidades
atômicas, um filme que acenasse com essa possibilidade de fim de mundo era
novidade.
Possivelmente, o primeiro filme ambientado no
pós-holocausto foi o semiesquecido Five (1951), escrito, produzido e dirigido
pelo veterano do rádio Arch Oboler, que depois o vendeu pra Columbia Pictures
distribuir.
O torvelinho de produções indie da década é um dos resultados do fim do monopólio dos grandes
estúdios sobre o exibido nos cinemas, que no fim dos anos 40 não necessitavam
mais depender apenas do mandado/ditado pelas MGMs da vida. Com ótima
infraestrutura, bastante gente com dinheiro pra investir e circuito de exibição
cada vez mais abrangente, produções de parcos 75 mil dólares como Five
abundavam. Claro que vender pra grande estúdio era vantajoso pras indies, porque algum lucro era
garantido. Era aquela coisa: os cinemas não mais eram obrigados a exibir o que
os grandes estúdios queriam, mas se o sujeito não tivesse como distribuir, quem
veria seu filme?
Five possui mais valor como precursor do que como
filme; na verdade mais teatro pretensioso - e meio enfadonho - filmado. Seu
conteúdo de ficção-científica quase inexiste, diluído pelo drama
pseudoexistencialista das personagens falando, falando e agindo imbecilmente a
ponto de se concluir que o planeta estaria mesmo bem melhor sem a espécie
humana.
Após a guerra nuclear que fulminou maciça parcela da
espécie humana, o planeta continua como antes, só sem gente. O céu segue azul
(pelo menos intui-se no preto e branco de Five), nascentes despejam de íngremes
montes, estradas estão intactas. De vez em quando uma placa entortada ou
esqueleto dentro dum veículo com vidro quebrado, mas nada demais. Parece até
que foi uma guerra com bombas H que dizimou o planeta, mas sem deixar fedentina
de apodrecimento nas cidades.
Numa casa à beira dum penhasco (o detetive Bosch
amaria!) 4 homens e uma mulher convivem após se encontrarem por acaso. Five é
bem mais sobre relacionamentos humanos do que o fim do mundo. Tem personagem
afro-americana (digno de nota praquela época esse protagonismo) que sofre
racismo sem que este seja nomeado; tem a mulher songa-monga que dá medo de
pensá-la uma nova Eva. Do jeito que são essas pessoas, qualquer recomeço de
humanidade resultará em extermínio novamente, podem apostar.
Apesar da lentidão e pretensão dos diálogos, dá pra se
divertir. Casal entra numa loja abandonada e ele comenta ”escute, não há sequer
um rato!” pra reforçar a esterilidade terráquea. Na cena anterior os pássaros
gorjeavam feito doidos! Quando plantam milho, celebram emocionados a primeira muda.
Em meio a um deslumbrante campo coberto de grama e frondosas árvores. Claro que
o maldito milho ou qualquer outra coisa brotaria ali!
Five usou o cenário
pós-apocalíptico como ferramenta de marketing,
porque poderia se passar numa ilha deserta ou numa cabana num pico de montanha
isolado pela neve. O que Oboler queria mesmo era fazer draminha psicológico
burguês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário