quinta-feira, 26 de abril de 2018

TELONA QUENTE 233


Roberto Rillo Bíscaro

Embora estrelado por Emilia Clarke (a Dull- nerys Targaryen, de Game Of Thrones), Voice From The Stone não foi visto sequer por todos os familiares dos envolvidos. A Netflix brasileira apostou tão baixo na produção do ano passado, que a incorporou na sua grade, sem título brasileiro ou dublagem, num país que maciçamente prefere ouvir português a ler legendas (nada de errado nisso, aliás – legenda não é sinônimo de mais cultura).
Não deixa de ser uma pena, porque embora esteja longe de possuir grandes méritos, Voice From The Stone pode agradar a plateias mais velhas, acostumadas com lentos filmes antigos de terror psicológico da Hammer ou Amicus, desde que partindo do princípio que o filme de Andrew Shaw não acrescenta nada a esse cânone. Pelo contrário, falta-lhe espessura.
Nos anos 50, jovem preceptora inglesa que vai de casa em casa cuidando de crianças problemáticas, é contratada pra curar menino de 8 anos, que perdera a mãe e emudecera. A minúscula família vive num castelo enevoado na Toscana e sua fortuna viera duma pedreira, ora desativada. O pequeno vive com a orelha grudada nas paredes e rochas e logo Verena começa a suspeitar que algo de sobrenatural entranha-se nas pedras. Ela também passa a viver situações estranhas.
Voice From the Stone é desavergonhada rapinagem de todos os lugares-comuns da literatura e cine góticos e derivados. A protagonista de país protestante enrascada numa nação católica; serviçal de cara amarrada; velhinha misteriosamente afável (não precisei terminar sua primeira cena pra sacar o que era). Enfim, tem Mr. Rochester misturado com Edgar Alan Poe, acasalado com Os Inocentes (1961) rondando pelo Castelo de Udolpho.
O problema crucial é que nada tem profundidade, especialmente a protagonista Verena, que não possui nuanças e Clarke não é Nicole Kidman, é Dull-nerys. Isso, acoplado à morosidade da trama afugenta gente mais moça e fãs mais típicos de GoT.
Mesmo assim, continuo achando uma pena a falta de divulgação, porque Voice From The Stone é satisfatório pra quem gosta de filmes em locações velhas e lindas. Parece aquelas sessões de televisão que nós 50tões víamos nos anos 70, 80.
Se você não esperar muito além de passatempo e belas imagens chapadas e estiver com síndrome de abstinência por isso, Voice From the Stone merece chance. Não me entediei.

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