Roberto Rillo Bíscaro
De modo algum soa falsa ou oportunista incursão de
Sting pelo reggae. Desde Roxanne ou Walking On The Moon, ouvem-se ecos
jamaicanos na música do britânico. Músicos da ilha caribenha reconhecem que a
popularização do ska e do reggae mundialmente não se deveu só a Bob Marley, mas
também ao superestrelato do Police há 40 anos. Músicos da ex-colônia inglesa já
fizeram alguns álbuns-tributo ao trio Sting-Copeland-Summers. Confira os volumes de Reggatta Mondatta: Reggae Tribute
Album to The Police ou Spirits In The Material World: A Reggae Tribute To The
Police ou ainda The Police in Dub.
Não deve soar como surpresa, portanto, que após retorno
de leve ao rock com 57th & 9th, Sting tenha optado por meter seu ferrão no
reggae e alguns de seus derivados contemporâneos, através de parceria com o
fusionista Shaggy. O resultado é 44/876, que em sua edição de luxo tem 16
faixas.
Bem fácil atirar pedras no álbum. A voz de Sting
engrossou e em números como Waiting For The Break Of Day soa despersonalizada (o
baixo vai bem, obrigado, confira o reboladão de Fathoms). Shaggy tem voz e
pronúncia que irritam muita gente e Sting ainda tenta escorregar prum
sotaquinho forçado jamaicano, que dá pra rir. E quando esses dois ricaços
reclamam da situação política e, pra fugir dela, vão ao Caribe cantar sobre paz
e amor? Mas, há algo de irresistivelmente pop descartável que dá certo charme
passageiro a 44/876.
Há reggae e derivados pra diversos gostos. No
raggamufin’ da faixa-título, evoca-se o fantasma de Bob Marley, mas o de Peter
Tosh assombra a levada de Night Shift. Tem o dancehall de Don’t Make Me Wait e até reggae encontra Carruagens de
Fogo (do Vangelis), em Love Changes Everything. Há o skank
de Love And Be Loved e muito reggae pop, como Morning Is Coming.
Há o erro de Crooked Tree, onde Shaggy soa como Falcão,
numa levada reggae cuja letra simula julgamento onde o jamaicano é o juiz e
Sting o condenado. De rir ou chorar.
Embora o título homenageie os códigos telefônicos de
seus países de nascimento, Sting e Shaggy amam mesmo são os EUA. Ambos são
imigrantes em Nova York. E é em clima super Grande Maçã, que 22nd Street se
sobressai. Dá vontade de ouvir passeando por Manhattan; nem Shaggy a estraga. E
depois dela vem Dreaming In The USA, que não apenas remete ao clássico Surfin’
In The USA, dos Beach Boys, mas usa harmonias típicas daquele grupo. Soa como
Beach Boys encontra The Police com participação de Shaggy. E toma babação de
ovo pela terra da liberdade!
Outro ponto alto é o soul mod de Gotta Get My Baby, que teria ficado perfeita no álbum
anterior e com parceiro outro, como Paul Weller. Seria um sonho o Modfather
duetando essa delícia.
Sting e Shaggy já não são cool pra mocidade hip há
tempos (Shaggy nunca foi), mas prum lual quarentão/cinquentão na praia 44/876
serve. Só este ano, porém. Quase tudo estará esquecido em 2019, porque é diversão
só pra agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário