Roberto Rillo Bíscaro
Nascida em 1939, a vida e a carreira de Mavis Staples misturam-se com a ascensão do rhythm and blues e do gospel como influenciadores e geradores de música pop, bem como com o movimento pelos direitos civis, do qual a amiga pessoal de Martin Luther King foi trilha-sonora.
Nascida em 1939, a vida e a carreira de Mavis Staples misturam-se com a ascensão do rhythm and blues e do gospel como influenciadores e geradores de música pop, bem como com o movimento pelos direitos civis, do qual a amiga pessoal de Martin Luther King foi trilha-sonora.
Staples jamais conheceu outra vida senão a de cantora,
senão a da estrada. Já aos 11 anos, cantava com a família em igrejas da região
de Chicago, onde também participavam dum programa semanal de rádio. The Staple
Singers tiveram certo sucesso radiofônico e viraram superestrelas no circuito
gospel, excursionando por toda parte durante anos. Quando o maridão lhe deu a
escolha de seguir a carreira ou ficar em casa cuidando de família, em 1964,
Mavis respondeu com bom pontapé na bunda e desde então não quis mais casamento.
Nem com Bob Dylan, que lhe pediu a mão. Os dois permanecem amigos, inclusive,
excursionado juntos ano passado.
Como artista-solo, seu primeiro trabalho saiu em 1969 e
desde então tem colaborado com gente do calibre de Prince; cantado com
roqueiros, tipo Arcade Fire e sido sampleada por meio mundo. Há alguns anos,
iniciou parceria com o branquelo Jeff Tweedy, líder do Wilco.
Bem avançada na septuagenaridade, Mavis não dá sinais
de querer parar e dia 17 de novembro saiu seu décimo-sexto álbum solo, If All I
Was Was Black, produzido por Tweedy, que compôs quase todas as 10 canções e
ainda dueta em Ain't No Doubt About It.
As raízes de Tweedy justificam o country/blues/folk
rock da faixa-título e de números como Who Told You So, o dueto e Try Harder.
Ao contrário de divas igualmente poderosas do R’n’B que também lançaram
trabalhos em novembro (leia sobre o espetacular álbum de Syleena Johnson, aqui),
Staples optou por produção nada orquestral, onde menos é mais. Isso funciona em
quase todo o álbum, exceto em No Time For Crying, que poderia ter mais peso
funk pra combinar melhor com a mensagem ativista da letra. Do jeito que está, a
canção fica parecendo mais longa do que realmente é, porque meio monótona.
Desencantada com a vitória do racista Trump, a profusão
de fake news (não só na internet) e a
escalada da violência contra afrodescendentes, não dá pra esquecer o conteúdo
político das letras, ainda que bem genéricas. Sonicamente essa tensão relatada
em palavras não encontra melhor transliteração do que na abertura, Little Bit,
onde guitarras duelam em cada lado de seu ouvido. Mas, os instrumentos não
estão em chave rock metal, mais pra blues.
Staples não vem irada; tá
nervosa e desencantada, mas letras como as de We Go High (Michele Obama,
hello!), Build a Bridge e da gospel Peaceful Dream, tem um quê super Kumbaya anos
60. Será mesmo que quem espalha notícias falsas não sabe o que faz, como afirma
We Go High? Esperemos que tendo vivido e militado em dias bem piores pros
afrodescendentes, Mavis saiba o que diz.
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