Roberto Rillo Bíscaro
A Guerra Civil da Guatemala ocorreu de 1960 a 1996,
entre o governo e vários grupos de guerrilha que a ele se opunham. Estima-se
que cerca de 150.000 pessoas pereceram e 40.000 desapareceram.
Nesse contexto, atentados terroristas eram rotineiros.
Em 5 de setembro, de 1980, uma bomba explodiu num terminal de ônibus na capital
guatemalteca ensurdecendo o bebê Fausto Müller para o resto da vida e matando
sua mãe.
Trinta e sete anos depois, o irmão de Fausto, o músico
e cineasta Kenneth Müller roteirizaria e dirigiria Septiembre, Un Llanto en
Silencio, provavelmente o único filme guatemalteco da grade da Netflix.
Só por isso já deveria despertar curiosidade por uma
checada, afinal, quantos filmes centro-americanos você já viu? Sintomático que
os atores centrais sejam mexicanos; não deve haver mesmo indústria
cinematográfica pujante no pequeno e pobre país. Isso deve ser lembrado para os
devidos descontos para um roteiro que se desenrola aos sobressaltos e nada
aprofunda.
Malgrado suas diversas falhas, Septiembre, Un Llanto en
Silencio tem o mérito de apresentar uma personagem surda, mais humanizada,
fazendo birra, se envolvendo com o cara errado, sendo sexy, desafiando o pai.
Enfim, não se trata do deficiente como ser “especial” ou cuja defasagem é o
centro de sua existência.
Müller transformou sua inspiração em personagem
feminina e mostra um pai que ficou só e teve que enfrentar a barra de criar a
filha surda. Ressente-se que a estória não tenha sido lapidada, mas
espectadores formalmente menos exigentes poderão focar no aspecto humano da
superação e apreciar Septiembre, Un Llanto en Silencio, que por si só já é
história de superação, afinal, em cenário tão ofuscado quanto o da Guatemala, o
diretor vendeu seu produto que custou 200,00 dólares à gigante do streaming.
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