terça-feira, 8 de maio de 2018

TELINHA QUENTE 308


Roberto Rillo Bíscaro

Produções escandinavas costumam não guardar pudor por nudez, então, chamou atenção cena onde os adolescentes da recém-lançada The Rain se ducham de cueca e sutiã – dá pra ver uma tetinha e um só, mas bem de leve. Com a difusão de produções locais financiadas pela Netflix, alguém logo equivalerá padronização à netflixação. The Rain é bem feita, prende, é maratonável, mas poderia se passar no Tennessee, na Patagônia ou no outback australiano. Que transcorra na Dinamarca e Suécia é só acidente geográfico, que quem viu dublado pode nem se dar conta e crer produto estadunidense. Algo como, incentivam-se produções locais, desde que não locais.
De certo modo, é pena, porque Dinamarca e Suécia influenciaram deveras a indústria e a estética da TV no último decênio, através de seu Nordic Noir. Em The Rain, a nanica península é que segue a trilha de The Walking Dead e tem até cena remetendo a Cordon.
A população da Escandinávia (do planeta?) foi dizimada por vírus transmitido por chuva geneticamente manipulada. Os irmãos Simone e Rasmus são levados pra segurança de um bunker por seus pais, mas a adolescente e o pivete fazem tantas pirraças estúpidas, perguntas e comentários energúmenos e atos cretinos, que desperta desejo de que além do vírus a precipitação contivesse ácido sulfúrico e os encharcasse até o úmero.
Um problema em The Rain: não há muito com quem se identificar e torcer, porque a idiotia é geral. Simone é a heroína, mas ela faz cada pergunta tola pra coisas que sabe não haver resposta, que fica difícil confiar nela pra repovoar o planeta. Você pode torcer pro vírus, como yo, mas saiba que se a espécie humana desaparecer, o planeta não ficará verdinho como em The Rain. Temos muito veneno hipertóxico estocado, cujos contêineres decompor-se-ão e derreterão tudo. 
Bem, os manos ficam 6 anos no abrigo e quando têm de sair, juntam-se a um bando de sobreviventes, que sai vagando pela Dinamarca/Suécia semidesabitadas, enfrentando perigos como milícias e até comunidade namastênica, do tipo da de Slasher. Aquele episódio é legal, não acrescenta absolutamente nada à jornada, mas é legal. Se você procura por série intelectualizada, The Rain vai aguar seu cérebro.
The Rain não aceita perguntas muito difíceis, senão o roteiro revelará seu absurdo. Por que aquela gente não anda com impermeáveis e guarda-chuvas, se teme aguinha caindo do céu? Se precipitação pluviométrica é o agente contaminador e disseminador do vírus, de que mesmo adianta um muro pra isolar quarentemados? E donde bebem água, se a chuva tá podre? Como ainda dispõem de wi fi e combustível, quando convém? E ainda sobrou comida industrializada comestível depois de mais de meia década?
Enfim, The Rain é olvidável diversão oportunista da modinha dos mundos pós-apocalipse (que nós mais velhos já vivenciamos há décadas). Dá pra seguir sem expectativas e fãs de Scandi Drama curtirão ver rostos de atores queridos, potencialmente sendo reconhecidos mundialmente e não só por nós hipsters que nos gabamos de conhecer BronIBroen, Dicte, Gidseltagningen Jordskott ou Arvingerne. Bem, a não ser que seu tesão seja precisamente ser um dos escolhidos fora da Dinamarca/Suécia que os conheçam.

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