O fenômeno classe-média de abandonar os centros urbanos
e se refugiar em áreas ao redor, chamadas suburbs
intensificou-se a partir da bonança econômica do pós-Segunda Guerra, nos EUA.
Depois, irradiou-se para o mundo, inclusive em países que cabem dentro de pequenos
estados ianques, como a teteia Holanda.
Atualmente, tais aglomerados urbanos são rodeados por
muros e protegidos por guaritas, a fim de manter os bichos-papões para fora.
Mas, e se as cercas servirem para mantê-los dentro, pergunta-se personagem de
Safe, minissérie disponibilizada no catálogo da Netflix, dia 10 de maio.
Criada pelo escritor norte-americano Harlan Coben,
coproduzida com o canal francês C8 e ambientada majoritariamente num condomínio
em algum lugar inespecificado da Inglaterra, Safe prende e permite maratona,
mas é tão genérica quanto o sotaque britânico de laboratório de Michael C.
Hall. Críticos têm atacado o ator de Dexter por isso, mas no fim, tem tudo a
ver com a produção. Não se sabe onde na Inglaterra se passa a história; não se
sabe de que mundo real sairia o sotaque de Hall. Suspeito que ele não tenha
pensado nisso, mas daria bom argumento para justificar a artificialidade. Vi no
original, porque sou professor do idioma e amo treinar listening, mas se você não tem esse compromisso, veja dublada (ou,
que tal treinar espanhol?).
Nem a canastrice atroz de Hall consegue estragar Safe, porque
o roteirista domina bem as convenções. Há suficientes revelações, desmentidos e
reviravoltas para garantir aderência à telinha e ansiedade pelo próximo
capítulo, ainda que não dê realmente para se importar com ninguém. Dá até meio
medinho de quão mecanicamente Safe consegue nos enredar.
Em seguro condomínio de classe média-alta murado,
vigiado por câmeras e trancado por portões, a adolescente Jenny Delaney
desaparece. Seu pai, o Dr. Tom, começa investigação paralela e desenreda cadeia
de segredos do passado, porque todo mundo tem algo a esconder, inclusive ele.
Safe é descendente de influente série britânica, que se for citada em resenha,
acaba por entregar o/a assassino(a). Não se preocupe, não estou contando que no
fim Jenny esteja morta; há um assassinato numa piscina logo no começo.
Como de gosto na contemporaneidade, o espectador
precisa se ajustar ao vaivém temporal, que acontece, especialmente no início
dos capítulos, quando ações são repetidas em flashbacks para que percebamos detalhes ou simplesmente para nos
fornecer informações sonegadas. Mas, é bem tranquilo essa calibragem, porque já
fomos bem domes/sofisticados para isso por tantas séries e filmes.
O elenco é eficiente, com destaque para Amanda
Abbington (a Miss Mardle, de Mr. Selfridge, owww!),
como a DS Sophie Mason e o sempre competente para papeis de falastrão vulgar,
Nigel Lindsay, como Jojo. O negócio é tão bem fechadinho, que quando se resolve
a trama e o mundo recebe justiça, você entende porque há um(a) personagem tão
inútil, como.... melhor não dizer, senão entrega o jogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário