Roberto Rillo Bíscaro
Tente imaginar versão bossa-nova de God Save the Queen,
dos Sex Pistols. Versos como God save the
queen/The fascist regime/They made you a moron/A potential H bomb malemolementemente
sussurrados e acompanhados por minimalista violão joãogilbertiano. Não dá, né?
É algo desse quilate o desastre em câmera lenta e som baixo da minissérie
francesa Le Chalet (2017), que a Netflix incorporou a seu catálogo bem
discretamente. Dessa vez há que agradecer a fortuidade: diminui a chance da
meia dúzia de capítulos entediarem em escala viral.
Numa aldeia propositalmente isolada por um acidente
(única cena legal de todo o show), pessoas indistinguíveis umas das outras são
eliminadas e aos poucos descobrimos o segredo do passado que deflagra o
massacre. Provavelmente por timidez orçamentária, a TV francesa (a Netrlix
deveria se envergonhar de chamar isso de ’série original’) pegou conteúdo slasher e formatou-o como drama
interpretado por atores que anunciam que alguém está morto como se dissessem
que vão à vendinha da esquina comprar duzentos gramas de provolone.
Slasher precisa gerar suspense, mesmo que inflacionado,
e ter mortes legais. Le Chalet não tem nada: numa das mortes, a guria tropeça,
cai pra trás e bate o coco numa pedra; parece fan video dalguma franquia slasher de sucesso. A música de abertura
é ótima, voz de criancinha cantando canção de ninar que fala em massacre. Mas,
a trilha incidental causa tanto suspense, quanto a versão bossa-nova dos
Pistols causaria.
Além de toda a sensaboria e canastrice, Le Chalet ainda
dá trabalho mental pra separar o que se passa no presente e o que ocorreu, que
explicará o ocorrente. Portanto, quem quiser investir tempo nisso, já se sinta
avisado. E preparado pra descobrir quem são os assassinos lá pelo terceiro
capítulo. Mas isso não ajuda muito, porque não sabemos qual(is) do grupo é/são
e nem se está(ão) lá. Mérito pra minissérie que poderia ter sido muito legal
caso tivesse injeção de capital pra adrenaliná-la.
Francamente, a tal “linda aldeia nas montanhas” não foi
a mesma que vi, mas um monte de casa de madeira no meio do mato. Qualquer
produção nórdica tem florestas muito mais sensacionais e séries francesas como Le
Mystère du Lac (2016) são ambientadas em locais que dão de dez.
Robert, eu achei um nonsense muito bom, daqueles de paisagens lindas e que não precisa de um segundo de reflexão complexa. Adorei o estilo o Caso dos Dez Negrinhos!!!
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