Antigamente era bem mais difícil detectar quando uma
produção reciclava cenários ou adereços, porque o único acesso que a maioria do
público tinha a filmes era quando exibidos no cinema e, depois, esporadicamente
na TV. Daí, entre os meses ou anos que separavam uma assistência da outra, o
espectador médio nem se lembrava direito da trama, quanto mais de detalhes
técnicos. Hoje é bem diferente, porque mesmo películas antigas estão no Youtube
ou podem ser baixadas (embora este blog não aconselhe, porque é contra a lei)
Assistência comparada interessante seria ver Fligh to
Mars (1951) imediatamente depois de Rocketship X-M. Apesar de o segundo ser
colorido, se você prestar atenção verá quão parco foi o orçamento dado pela
Monogram Productions: o interior do foguete é o mesmo de Rocketship, e as
roupas dos marcianos idênticas aos uniformes de Destino Lua. Sem contar que os
trajes espaciais dos terráqueos em Flight to Mars (FTM) também não passam de roupas
de aviador ou bombeiro militar. No Brasil chamado Voo Para Marte, FTM é um dos
muitos genéricos da produção sci fi
fordista dos anos 1950.
A Terra está prestes a lançar seu primeiro voo
tripulado ao planeta vermelho; uma nave com cientistas e um jornalista, onde
parece que a maioria se conhece quase na hora do lançamento. Quer mais
pragmático e producente do que colocar bando de estranhos confinados, sem teste
psicológico ou de convivência? O roteiro de FTM é feito nas coxas, afinal,
trata-se dum quickie (do adjetivo
rápido), termo também utilizado até hoje pruma trepadinha veloz. Viu, como foi
nas coxas? Reza a lenda que TFM levou cinco dias pra filmar.
Uma chuva de meteoros iguais aos de Rocketship X-M, mas
vermelhos, avaria a nave, que faz pouso forçado e fica encravada de bico, no
que parece ser neve marciana. Se bem que isso não deveria fazer diferença,
porque no início um dos cientistas afirmara que não faziam ideia de como
retornariam da missão (WTF?).
Em Marte, encontram civilização subterrânea
avançadíssima, capaz de extrair oxigênio e comida de pedra, mas não de construir
foguetes. Todos falam inglês porque captam as múltiplas transmissões de rádio
da Terra, mas sua tecnologia anos-luz mais avançada do que a nossa, não
consegue transmitir de volta. O roteiro tem tanta lógica, como possuo pigmento.
Os marcianos, iguaizinhos a nós e com mulheres usando microvestido, são
supercooperativos, mas logo descobrimos suas segunda intenções.
FTM perde a graça no terço final, quando vira meio
draminha mimimi com sua parte pseudoamorosa. Como o dinheiro acabou, roteiro
teve que fazer os atores ficarem conversando vestindo aquelas roupas
“futuristas”.
A crítica tem sido
demasiado rigorosa com Flight to Mars, porém. Suas roupas coloridas e o nonsense
do roteiro ainda dão caldinho gostoso pra fãs de sci fi.
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