Roberto Rillo Bíscaro
Em 2011, a Dinamarca levou o Oscar de melhor filme
estrangeiro, com Em Um Mundo Melhor, da diretora Susanne Bier. Em um mundo onde
até a ex-idílica Escandinávia teme a violência, a produção faz questionamentos
liberais, cujas respostas, claro, funcionam só pruma minoria.
A trama envolve 2 famílias entrecruzadas pela amizade
de 2 garotos, o dentuço Elias e Christian, que perdera a mãe recentemente e era
uma bomba pronta a (literalmente) explodir. O pai de Elias é um médico sueco
que atende em campo de refugiados na África, sabe-se lá em qual país, afinal,
tudo é “África”, é tudo igual (SQN). A comunidade no local é aterrorizada por
gangue que estripa grávidas, dentre outras gentilezas.
Na Dinamarca, seu filho é vítima de bullying muito pesado na escola, não
apenas pelos dentes, mas por ser sueco, porque a Escandinávia também não é uma
coisa só, harmoniosa, como forasteiros fantasiam. Viram como todos temos nossas
“Áfricas”? Mesmo que sejam ricas...
Quando Christian começa a frequentar a instituição e
também bullynado, sua reação é de arrancar sangue da fuça do agressor. Assim,
nasce a amizade entre os discriminados e infelizes garotos.
Um dia, ambos presenciam o pai de Elias, o Dr. Anton,
ser humilhado e agredido publicamente por um mecânico dinamarquês (Kim Bodnia,
o Martin Rohde, de Bron/Broen). Como o sueco é adepto da não-violência, vira a
outra face, mas os meninos ressentidos não gostam e começam a tramar algo.
Enquanto isso na África, o médico terá que confrontar novamente sua atitude
supercristã de apanhar e ficar quieto, quando o líder da facção que assombra o
acampamento chega de surpresa, cheio de capangas e com a perna podre.
Com problemas paralelos na “África” e na Dinamarca, Em
Um Mundo Melhor é cristalinamente claro nas perguntas que propõe e em seu
propósito parabolizante. Faz isso de maneira competente, bem atuada, com
suspense e drama, mas sua lógica interna tende a enxergar como violentos mais
os povos e pessoas “primitivos”: os africanos e o mecânico, o qual Anton
paternaliza que não teve escolha, que não se consegue se controlar. Uau, tão
próximo de animais, tadinho, SQN.
Outro nó é que as decisões tomadas por Christian/Elias
e Anton pra reagir à violência na Dinamarca e na “África” são problematizadas e
têm desdobramentos apenas na primeira. É como se na “África” valesse fazer
qualquer coisa. Como os colonizadores d’outrora.
Esses questionamentos não inviabilizam Em Um Mundo
Melhor. Pelo contrário, colocam mais lenha pra discussão, afinal, quem já não
teve vontade de se vingar na porrada dalguma das constantes violências que
sofremos?
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