segunda-feira, 4 de junho de 2018

CAIXA DE MÚSICA 317


Roberto Rillo Bíscaro

Quando a esfuziante Breakout estourou nas FMs brasileiras, lá pelos distantes idos de 1986/7, achei legal, mas não botava fé no Swing Out Sister. Comparando com Style Council, Sade e Matt Bianco, soava meio fabricado, feito nos sintetizadores, enfim, era “comercial”. Como se os mencionados não fossem; como a gente pode ser tolo na mocidade (na velhice também).
Conforme os álbuns se tornavam mais sofisticados e retrô, com mais orquestrações e menos electronica, o sucesso comercial dos ingleses decrescia. Na segunda metade dos 80’s/primeira dos 90’s Corinne Drewery e Andy Connell tiveram singles de sucesso, como Am I The Same Girl e La La (Means I Love You). A partir de Shapes And Patterns, álbum de 1997, o duo lançava material primeiro no Japão e só depois no resto do mundo. Há coisa que só saiu na Ásia, onde se mantiveram populares por mais tempo, como nas Filipinas e centros onde havia comunidades de fãs de lounge, retro pop, exotica e outras burtbacharices.
Realmente cri que o Swing Out Sister (SOS) era “sério”, quando ouvi The Living Return (1994). Sua elegante imersão no soul, funk e jazz selou sua sorte como produto de massa, mas me mostrou que Corinne e Andy eram mais do que momentos pop inconsequentes. E quanta maravilha ao longo de anos.
Hoje, praticamente invisível até no mercado nipônico, o SOS lança material primeiro via serviços tipo PledgeMusic, como é o caso de Almost Persuaded, cofinanciado por fãs e disponibilizado pra download em dezembro. O álbum terá lançamento oficial, via gravadora, somente em meados de junho.
Em seu blog The Blue Moment, Richard Williams definiu Almost Persuaded como escapada para um mundo neo-Bacharachiano de elegância romântica. Perfeito. Incapazes de criar um universo como o Mestre, o SOS logrou construir um planeta dentro dele.
Nele, existe eternamente um loop temporal que vai aproximadamente de 1967 a 1974. Mas, o som não é cópia vintage e aí reside o Paradoxo do Swing Out Sister: Corinne e Andy conhecem enciclopedicamente o pop, soul, jazz, wall of sound, exotica, funk, bossa e trilhas-sonoras à Valley of the Dolls desse período. Assim, estilhaçam elementos de um ou outro subgênero, pós-modernamente pinçando apenas o que lhes convém e mesclando com outros cacos de sub-estilos para formar um todo retrô, submerso em ondas de cordas sintetizadas. Em Happier Than Sunshine elementos de funk, jazz e soul foram rearranjados em um mundo deslizante de pura beleza escapista. Em Don’t Give The Game Away, esses estilhaços de estilos aparecem fugazmente e somem, como fantasmagorias.
Almost Persuaded enfileira um pequeno milagre atrás do outro, que, para fãs mais antigos e atentos, às vezes remetem a trabalhos anteriores, como I Wish I Knew que retorna para Shapes and Patterns.
Mas, o poder do álbum é no atacado, não adianta destacar essa ou aquela. Almost Persuaded é pra ser ouvido com seu drinque favorito, fantasiando estar ao lado de seu ícone fashion favorito. Ou se espojando em lençóis de cetim. Se não os possuir, sonhe-os, afinal, como a voz que não envelhece de Corinne Drewery canta “if it’s only a dream/then I’m dreaming my life away.”

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