Hoje,
vamos de dobradinha de minisséries inglesas de 4 capítulos, com Nigel Lindsay
no elenco. A diferença é que uma tem na Netflix; a outra, não.
Roberto Rillo Bíscaro
Por que a Netflix coloca títulos desnecessários em
inglês em um país, que prefere material dublado?, perguntei-me quando recebi email dizendo que provavelmente gostaria
da minissérie Retribution (2016). Mais intrigado fiquei, quando descobri que se
tratavam dos 4 capítulos de One Of Us, da BBC. Por que alterar? Receio que
jamais saberei as respostas pra ambas as indagações, mas valeu bastante a pena
tê-la maratonado num sábado.
As famílias de Adam e Grace são vizinhas nas remotas
terras altas da nublada Escócia. Desde crianças, se amam e quando se mudam pra
Edimburgo se casam, mas, na noite em que retornam da lua-de-mel são assassinados.
Numa noite tempestuosa o noia que fez o serviço descola carro e se dirige pra
residência dos pais dum deles, mas, devido ao mau tempo, sofre acidente.
Socorrido pela irmã de Adam, quando sua identidade é descoberta inicia-se
debate se vale a pena deixa-lo vivo ou se compensa vingar o defunto casal.
Começa, então, uma espiral de acontecimentos e revelações, culminando num
desfecho de despedaçar corações.
Retribution, muito além de história de detetive, é
(melo)drama familiar sombrio, que não poupa ninguém do estraçalhamento. Os
britânicos são mestres nisso, vide socos deprês no estômago, como Tiranossauro
(2011).
Em Retribution, nem a detetive está isenta de culpa e
as ações, a princípio desconectadas, provam ter efeitos devastadores, como os
dum bater de asas de borboleta japa provocando tsunami em San Francisco.
O primeiro capítulo podia pegar no tranco mais
rapidamente, mas sugiro paciência, porque vale a pena e não é chato, na
verdade. Mas, você sentirá a diferença no interesse, quando os esqueletos
começarem a ser desenterrados da fria terra escocesa. A pseudotrama da velhinha
que quer ser eutanasiada é bem irrelevante, mas é inconveniente menor perto de
tantas atuações ótimas, especialmente a de John Lynch, que quem viu The Fall
(tem na Netflix) reconhecerá.
Bem Celtic Noir; se você
gostar de Retribution, não pode deixar de ver o exemplar máximo dessa
subdivisão do Noir: Hinterland. Daí sim, você verá o que são corações partidos
em investigações policiais. Também tem na Netflix.
Como não é aconselhável depender só de Netflix, no
domingo maratonei os 4 capítulos de Innocent, exibidos em maio.
David Collins passou sete anos na cadeia pelo
assassinato da esposa. Sempre alegou inocência e 3 julgamentos jamais foram
conclusivos, então, tem que ser solto. Disposto a provar que não é culpado, Collins
tem a sorte de que a DI Cathy Hudson tenha sido designada pra conduzir nova
investigação.
A função da policial é refazer os passos do DI William
Beech, que pode ter sido tendencioso, porque sempre creu na culpa de Collins e
pode ter direcionado a investigação nessa direção. A DI Hudson tem que ser,
portanto, sumamente imparcial, porque refará o trabalho dum colega. Só mesmo
numa obra ficcional ou num sistema abertamente corrupto ela seria a indicada:
Hudson e Beech são namorados. Mas, também por ser ficção, Hudson coloca a ética
acima de tudo e começa a descobrir faceta nada agradável de seu homem. Nigel
Lindsay parece estar se especializando em papéis antipáticos, vide-o em Safe.
Innocent explora bastante a faceta dramática do
martírio de Collins. As consequências em seus familiares; algumas repercussões
na comunidade. Broadchurch repercutindo.
Telespectadores experientes
com esse tipo de roteiro, provavelmente sacarão @ culpad@ rapidinho (não levei
nem a metade do primeiro capítulo pra formular hipótese), mas Innocent entretém,
porque possui todas as reviravoltas, retratações e revelações necessárias prum
envolvente programa detetivesco.
Adorei, as paisagens são MASTER! O MOOD também...
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