terça-feira, 19 de junho de 2018

TELINHA QUENTE 314


Roberto Rillo Bíscaro

A história do uso de substâncias que melhoram o desempenho físico é mais antiga do que os jogos olímpicos. Os chineses, há 4 mil anos, conheciam os efeitos do chá de machuang, que contém efedrina em altas doses e era utilizado para aumentar a capacidade de trabalho. Nos jogos olímpicos da Antiguidade, em 800 antes de Cristo, os atletas bebiam chás de diversas ervas e usavam óleos e cogumelos para melhorar seu desempenho. No século 19, popularizou-se entre os competidores uma bebida chamada “Vin Mariani”, à base de folhas de cocaína. Então, doping não é sinal de nossa sociedade decadente em comparação a um passado quando tudo era amor à competição honesta.
Doping genético é o tema central dos cinco capítulos da minissérie Alpimaja (2012). A equipe feminina de natação da Estônia perde suas medalhas olímpicas depois que auditoria revela que as nadadoras usaram substâncias proibidas. O governo estoniano contrata a ajuda do expatriado Martin Kütt, experto solucionador de crises, que fizera carreira fora de seu país natal, pronde tencionava retornar nunca mais.
Não demora pra ele se dar conta de que a manipulação genética de atletas desde a infância estava gerando pequeno batalhão de mutantes inválidos. Em um ambiente ainda muito viciado com as posturas autoritárias do Partidão na época soviética, Martin terá que se mover entre políticos corruptos/oportunistas/carreiristas; celebridades de TV que fingem apreciar decência e verdade, mas querem mesmo só audiência e uma revelação de sua vida pessoal, enquanto vivia na Estônia.
Malgrado algumas cenas e diálogo longos em demasia; umas musiquinhas incidentais que lembram a TV ocidental ainda nos 80’s e equalização sonora estranha, quando se trata de cenas com ruídos externos tipo rua ou aeroporto, Alpimaja mantém o interesse. Não apenas, talvez, porque a história tenha seus méritos próprios de sustentação, mas porque, afinal, com que frequência acessamos material da TV estoniana?
Essa é uma das coisas mais legais da globalização: ver atores d’outro lado do globo, atuando numa língua que nunca ouvíramos, em locações com neve até nos tímpanos, filmando ruas que jamais visitaremos provavelmente, mas que se tornam menos alienígenas, porque podemos vê-las por imagens de produções tão decentes, quanto Alpimaja.

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