segunda-feira, 16 de julho de 2018

CAIXA DE MÚSICA 323



Roberto Rillo Bíscaro

Angela Ro Ro foi apresentada ao grande público, em 1979, através de seu álbum homônimo de estreia. O fim dos 70’s trouxe copiosa safra de vozes femininas, como Zizi Possi, Fátima Guedes, Fafá de Belém, Marina, antes de ser Lima.
Mais ou menos até 1983/4, Ro Ro frequentou assiduamente paradas de sucesso e noticiosos policiais, por seus escândalos, alguns envolvendo agressão à então namorada, outra grande da MPB surgida na época.
O BRock e as subsequentes ondas comerciais de lambada, axé, sertanejo, arrocha e sabe-se lá o que mais, varreram das rádios comerciais a turma da MPB, mas Angela continuou compondo, sendo regravada, embora tenha diminuído bastante o ritmo de lançamentos.
Pouco após a virada do milênio, a carioca dexintoxicou/emagreceu geral; apresentou talk show; foi merecidamente homenageada por cantores da nova geração.
Há oito anos sem lançar material de estúdio inédito, a cantautora retornou no fim do ano passado com as onze faixas de Selvagem, lançado pela Biscoito Fino, por isso disponível em tudo quanto é Spotify e Deezer da vida.
Angela Ro Ro é uma espécie de Maysa Matarazzo pós-moderna nível hard e a afirmação dessas personas é muito importante, seja reiterando mundos que vivem caindo, seja personalidades fortes. Ro Ro reafirma sua independência e gênio indômito na faixa título, com sua guitarra roquinho e no xaxado Parte Com o Capeta. Sua conversão para o vegetarianismo e o lado cheio do copo (sem ironia pretendida) é relatada na popice oitentista de Caminho do Bem.
Em Maria da Penha, a zonasulista Ro Ro ataca de samba do morro pra denunciar a violência doméstica, enquanto Todas As Cores volta aos calçadões da bossa ipanêmica, exaltando o amor, o sorriso e a flor.
Portal do Amor é bilíngue com inglês e clima bluesy e como todo álbum típico de emepebista de sua geração, o resto é balada competente e gostosa, tipo Meu Retiro, Nenhuma Nuvem e É Simples Assim.    
Com boas letras e vocal ainda potente, o calcanhar de Aquiles é a produção. Sabe-se lá se por contingência estética ou orçamentária, todos os instrumentos são executados digitalmente, então, Selvagem perde um bocado de sua potencial força, porque o som sintetizado carece de profundidade. Até soa como coisa produzida nos 80’s, mas isso não é necessariamente ponto positivo. Assim, Selvagem fica mais na palavra que na ação.

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