Um leitor reclamou que eu dava espaço pra menos famosa
Tamar Braxton e nenhum pra mana Toni. De fato, resenhei os álbuns Calling AllLovers e Bluebird Of Happiness, de Tamar, e, a parte Un-Break My Heart, pouco conheço
de Toni Braxton. Em minha defesa, a diva noventista não lançava solo desde 2010
(o trabalho de 2014 foi com Babyface) até ressurgir dia 23 de março, com o
conciso Sex and Cigarettes.
(Bem) Passado seu ápice comercial (o único primeiro
lugar do álbum foi na parada britânica de R’n’B, e isso significa nada), Toni
Braxton não veio interessada em inovar sonoramente. As 8 faixas apresentam
produção conservadora à anos 90/década passada. São baladas de muita sofrência,
cantadas com sua voz que de quando em vez enrouquece. Apoiadas em piano e/ou
violão, a faixa-título e Deadwood são pra ouvir dramatizando muito. Long As I
Live tem clima mais arejado, meio de soul
jazz funkeado, bem FM descolada d’outrora. Tem o easy listening de Sorry e a sem-gracice de My Heart. Coping ensaia
virar dançável durante todo seu tempo, promessa que só se concretizará na
derradeira Missin’, que mesmo assim, não é nenhuma locomotiva dance.
A única novidade é que Toni
Braxton entra pro time das divas bocas-sujas, que falam “bitch” e
“motherfucker”. Na esparsa FOH (Fuck Outa Here), a base sônica é familiar, mas
a sofrência vem com chuva de impropérios.
Ao contrário das Braxton que estão sempre sob
holofotes, Krishunda Echols é praticamente invisível. Sua página no Facebook
não tinha 800 seguidores, quando escrevi esta postagem e seu álbum I Miss You,
lançado no início do ano, tem produção bem humilde. Não lembro como me deparei
com ele, mas dá pra conferir no Spotify, CDBaby, enfim, quem pesquisa, acha.
Quem cresceu/adolesceu nos anos 80, ao som de Gregory
Abbott, Rockwell, Nu Shooz, ou os Jermaines Jackson ou Stewart vai se sentir em
casa com a simplicidade pop soul de I
Miss You. As canções brejeiras, como a percussiva Wiggle e Let´s Party falam de
como é bom festar e dar, como em Last Night, onde canta “rock me all night long/like
my back ain’t got no bone” Eita!
Quando é pra sofrer, tem
até copioso choro no final, como no puro melodrama de How Can This Be. Get
Through To You saiu do mesmo tecido que deu ao mundo canções como For Your
Babies, do Simply Red e Hold Me In Your Arms, do Rick Astley, só que a produção
tem menos dindim. O funk de Give It Up enfurecerá feministas, porque volta
praquele tempo em que as negras exortavam as colegas a colocarem seus homens no
trono e tratá-los como reis, desistindo de si mesmas.
Adriana Evans passou infância imersa em jazz e música
caribenha, devido à origem e/ou profissão de seus pais. Vivendo na cosmopolita
San Francisco, o influxo musical incluiu soul, rock e, mais tarde, em Los
Angeles, Evans conheceu melhor o mundo hip hop. Um vozão e tantas influências
resultaram em carreira musical rica, embora pouco valorizada comercialmente.
Talvez por essa falta de reconhecimento, Evans tenha se
refugiado no Brasil após seu primeiro álbum (1997). A estadia por aqui se faz
presente em sua música, que não vem frequentemente desde 2010. Em novembro do
ano passado, saiu apanhadão chamado Lost And Found, com (re)mixes, versões alternativas e instrumentais (as 3 últimas, a
parte mais chatinha dum álbum delicioso).
As nove faixas restantes, porém, são paraíso pra fãs de
quiet storm, jams do final dos 70’s, urban
soul, enfim, povo retro-soul em geral, que não resistirá a delicias como
Distant Lady ou o dueto Candy Man. To Know You vem em versão soul pra depois
ressurgir em uma soft rock, que
derreterá o coração de quem se recorda de Rita Coolidge, Nicolette Larson e
Juice Newton. Hey Now tem aquela vibração Club Tropicana, pra deslizar por
calçadões à beira-mar ipanêmicos ou franceses. Midnight In Mantanzas agregará
fãs de acid jazz aos admiradores de
Adriana; enquanto a guitarrinha Nile Rodgers, de Summertime, trará à bordo, os
fãs do velho Chic. Cold As Ice é funkeada, mas calma e o remix de All For Love aponta como a música brasileira influencia
Evans, embora não seja o único exemplo no álbum.
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