Roberto Rillo Bíscaro
As aspas no título expressam meu desconforto em – como
homem – sugerir que uma mulher possa superar ato tão vil quanto abuso sexual.
Dados estarrecedores indicam que a violência contra a mulher é alta em qualquer
classe social e mesmo em países onde a igualdade de gênero é política pública,
a violência contra elas não necessariamente diminui.
Pensamos mais na violência sexual, aquela envolvendo
escoriações e penetração, mas mulheres convivem diariamente com práticas
insidiosas: apalpadas, assovios, encoxadas em vagões lotados, cantadas,
gracejos inconvenientes. É a preocupação de evitar passar por certos locais com
uma roupa mais curta ou ser culpabilizada por algum avanço de qualquer espécie,
simplesmente por se ter sido gentil. Uma pressão com a qual nós homens podemos
até empatizar, mas duvido que entender em sua amedrontadora plenitude, por
sermos educados para exercer o papel de donos do mundo.
Tudo isso vem à mente com a leitura do conciso Nunca
Mais Olhei Para Trás, livro de estreia da escritora penapolense Carol Freitas,
lançado de forma independente há algumas semanas.
A narrativa em forma de diário simples e direto, fala
do drama de uma adolescente estuprada pelo padrasto e que depois sofre
arrasadora perda familiar. Seus capítulos curtos e breves setenta e poucas páginas
mostram como Maria Luísa encontrou forças para lidar com os traumas, através da
espiritualidade, ajuda profissional e construção de carinhosa e protetiva rede
de apoio fraterno.
Pode-se argumentar, que, como para compensar Maria
Luísa pelo opróbrio, a narrativa faz com que tudo dê muito certo depois e ela
só encontre gente disposta a entender o que passou. Mas, isso é secundário
nessa obra, onde sobressalta a capacidade de se comunicar com o emocional do
leitor.
Historiadora e advogada por formação, Freitas está mais
preocupada com denúncia social que esclareça e inicie reflexões, do que com
firulas linguísticas. Nesse sentido, atinge em cheio toda uma geração
acostumada à linguagem mais direta da TV e da internet. Carol sabe construir suspense e dar indícios do que
sucederá, especialmente na parte mais emocionalmente pesada, para depois mostrar
como é possível uma recuperação e até o uso da experiência devastadora como
motivo para ajudar os outros.
Por ser publicação própria, Nunca Olhei Para Trás só
pode ser comprado diretamente nas livrarias de Penápolis, mas aos interessados
de fora, deixo a página do Facebook, criada para a obra. Quem sabe você não faz
negócio com a doce Carol?
Me sinto honrada em cada palavra usada por ti professor amado.
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