Roberto Rillo Bíscaro
The Inbetweeners jamais poderá ser acusado de aguar a
rudeza do humor inglês. Os 18 episódios das 3 temporadas estão disponíveis na
Netflix e são pra quem não tem pudores de rir do politicamente incorreto,
escatológico ou explicitamente estúpido e pueril. O que começou como comédia
perdida no mar de importados norte-americanos do acanhado canal E4, em 2008,
transformou-se num fenômeno cult de
massa, termo que soa anacrônico mas descreve aqueles produtos não tão massivos
quanto Friends, mas não tão minúsculos. The Inbetweeners está no meio até na
recepção. Não virou carne de vaca, mas garantiu a maior audiência pro E4 até
hoje, com um episódio de 2010, ano de sua derradeira temporada. Acho que midcult é a expressão uma vez usada em
inglês.
Quando a mãe de Will se divorcia, o esnobe adolescente
com sotaque de classe média-alta, paletó e gravata e pasta 007 na mão, tem que
se transferir pruma escola pública, onde sua nerdice atrai toda sorte de assédio
moral e bullying. Ostracizado e humilhado, os únicos amigos que Will consegue
são os eternos perdedores ostracizados e humilhados Jay, Simon e Neil. As
desventuras desses 4 adolescentes suburbanos – interpretados por atores já
adultos, como sempre – são o tema de Inbetweeners, cujo nome em inglês é uma
alusão ao fato de teens não serem
crianças nem adultos, estão na metade do caminho, então, querem se comportar
como maduros, mas ainda possuem tantos traços infantis.
A cada episódio, o narrador Will narra uma cagada do
bando. Não se assustem com a explicitude e heterodoxia de cagada numa resenha;
essa molecada só faz merda e a série não se intimida em fazer piada com
deficientes físicos ou professores pedófilos ou pais gays, aludir à morte de
animais, botar adolescentes falando da forma mais nojenta possível sobre sexo,
usar toda sorte de fluidos e excreções corporais pra fazer humor.
The Inbetweeners é jorro incessante de palavrões e
obscenidades que apelam pro nosso sentido de humor mais vulgar. E, menino, como
funciona! Eu chorava de gargalhar a ponto de ter que dar pause pra não perder nada. Na verdade, escrevendo isto, dei umas
risadas relembrando o mentiroso compulsivo Jay, as risadas patetas de Neil, a
tirania amargurada de Mr. Gilbert (o Ken Thompson, de Cuckoo).
Pros mais antigos entenderem melhor: The Inbetweeners
funciona como um Anos Incríveis do inferno. Will – à moda de Kevin Arnold – é o
narrador, mas ao final, ao invés da edificação pedagógica de Wonder Years, os
garotos da série britânica não aprendem nada, ou melhor, até há uma relação do
que aprenderam, mas é sempre coisa que não presta. É baixaria, mas não é
hipócrita, porque nas sitcoms do
“bem” as personagens sempre “aprendem” algo, mas passam temporadas repetindo
erros e cagadas, afinal, a mentira de que aprenderam algo tem que ser mantida.
Há quantas temporadas Modern Family – que é uma boa série, não entendam mal –
insiste que Jay precisa mostrar mais seus sentimentos? Ele “aprende” em um
episódio apenas pra na temporada seguinte ter que “aprender” de novo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário