terça-feira, 17 de julho de 2018

TELINHA QUENTE 318


Roberto Rillo Bíscaro

A Finlândia quis aproveitar um bocadinho do sucesso Nordic Noir de suas vizinhas escandinavas com os 11 capítulos de Sorjonen (2016), coprodução da Netflix com o canal Yle. Entrou na grade brasuca domingo passado. Em inglês, a série ganhou o nome de Bordertown, ou seja, cidade da fronteira.
Atormentado pela violência perturbadora de Helsinki, o detetive-inspetor Kari Sorjonen se transfere com mulher e filha pra Lappeenranta, no sudeste finlandês, fronteira com a Rússia. São Petersburgo fica a uns 200km. Claro que a violência acompanha Kari pra onde vá e, mal chega, crimes hediondos começam a acontecer. Seu medo de permanecer na capital era que a violência se metesse em sua família, por isso foge. Em vão, porque é lá que isso acontecerá.
O nome em inglês enfatiza a geografia, que, por sinal, é soberba. Lappeenranta fica à beira dum lago, cercada por florestas, então os visuais são de cartão-postal. E dá-lhe imagem de drone sobrevoando pontes e mais pontes. Lindo e plácido e limpo como qualquer Nordic Noir, mas sem neve, porque tudo se passa no verão.
O título finlandês é Sorjonen, o sobrenome de Kari, ou seja, o original pede que atentemos pro detetive, algo bastante comum no subgênero, vide Irene Huss, WallanderInspector Morse. As histórias podem nem ser tão originais – prendem a atenção, porém – mas o ator Ville Virtanen constrói mais um detetive memorável pra fãs do subgênero.
Kari Sorjonen possui aptidões dedutivas dignas dum Sherlock Holmes e pitadinha de Saga Norén. O que não o torna cópia carbonada dos colegas inglês e sueca é que Kari pode ser socialmente meio desengonçado, mas é possível se identificar com ele mais fácil e rapidamente, porque está conectado com a mulher e a filha adolescente. É esquisitão, mas gostável, embora tenha jeito meio mecanizado. Ajuda bastante pra estrangeiros, o idioma finlandês, com o qual, convenhamos, não somos familiarizados. A cadência da voz de Virtanen é hipnótica em sua aparente robotização pra nossos ouvidos.
Outro diferencial de Sorjonen – prefiro mesmo o título finlandês – é que são 3 ou 4 casos divididos entre os 11 episódios, então, dá pra fazer minimaratonas. É o usual Nordic Noir, na verdade, o usual detetivesco: garotas – como a mulherada é dizimada na ficção policial, não? – russas comercializadas como escravas sexuais; crimes horrendos, tipo deixar uma jovem submersa durante dias, respirando mediante tubo (imagine a hipotermia e como fica a pele!) e afins. E Sorjonen sempre deduz tudo com sua memória fotográfica.
Há uma trama maior que perpassa todos episódios, sobre o prefeito que quer construir um cassino e é descrito como meio corrupto, mas pra falar a verdade, nunca o vemos fazer algo errado, é mais o roteiro sugerir seus descaminhos do que apresentá-los. Assim fica complicado: espectador é com São Tomé, tem que ver pra crer. No fundo, as demais personagens apenas realçam os traços de Kari. Normal, a série leva seu sobrenome.

Nenhum comentário:

Postar um comentário