Roberto Rillo Bíscaro
A Finlândia quis aproveitar um bocadinho do sucesso Nordic Noir de
suas vizinhas escandinavas com os 11 capítulos de Sorjonen (2016), coprodução
da Netflix com o canal Yle. Entrou na grade brasuca domingo passado. Em inglês,
a série ganhou o nome de Bordertown, ou seja, cidade da fronteira.
Atormentado pela violência perturbadora de Helsinki, o
detetive-inspetor Kari Sorjonen se transfere com mulher e filha pra Lappeenranta,
no sudeste finlandês, fronteira com a Rússia. São Petersburgo fica a uns 200km.
Claro que a violência acompanha Kari pra onde vá e, mal chega, crimes hediondos
começam a acontecer. Seu medo de permanecer na capital era que a violência se
metesse em sua família, por isso foge. Em vão, porque é lá que isso acontecerá.
O nome em inglês enfatiza a geografia, que, por sinal,
é soberba. Lappeenranta fica à beira dum lago, cercada por florestas, então os
visuais são de cartão-postal. E dá-lhe imagem de drone sobrevoando pontes e mais pontes. Lindo e plácido e limpo
como qualquer Nordic Noir, mas sem neve, porque tudo se passa no verão.
O título finlandês é Sorjonen, o sobrenome de Kari, ou
seja, o original pede que atentemos pro detetive, algo bastante comum no
subgênero, vide Irene Huss, Wallander, Inspector Morse. As histórias
podem nem ser tão originais – prendem a atenção, porém – mas o ator Ville
Virtanen constrói mais um detetive memorável pra fãs do subgênero.
Kari Sorjonen possui aptidões dedutivas dignas dum
Sherlock Holmes e pitadinha de Saga Norén. O que não o torna cópia carbonada
dos colegas inglês e sueca é que Kari pode ser socialmente meio desengonçado,
mas é possível se identificar com ele mais fácil e rapidamente, porque está
conectado com a mulher e a filha adolescente. É esquisitão, mas gostável,
embora tenha jeito meio mecanizado. Ajuda bastante pra estrangeiros, o idioma
finlandês, com o qual, convenhamos, não somos familiarizados. A cadência da voz
de Virtanen é hipnótica em sua aparente robotização pra nossos ouvidos.
Outro diferencial de Sorjonen – prefiro mesmo o título
finlandês – é que são 3 ou 4 casos divididos entre os 11 episódios, então, dá
pra fazer minimaratonas. É o usual Nordic Noir, na verdade, o usual
detetivesco: garotas – como a mulherada é dizimada na ficção policial, não? –
russas comercializadas como escravas sexuais; crimes horrendos, tipo deixar uma
jovem submersa durante dias, respirando mediante tubo (imagine a hipotermia e
como fica a pele!) e afins. E Sorjonen sempre deduz tudo com sua memória
fotográfica.
Há uma trama maior que
perpassa todos episódios, sobre o prefeito que quer construir um cassino e é
descrito como meio corrupto, mas pra falar a verdade, nunca o vemos fazer algo
errado, é mais o roteiro sugerir seus descaminhos do que apresentá-los. Assim
fica complicado: espectador é com São Tomé, tem que ver pra crer. No fundo, as
demais personagens apenas realçam os traços de Kari. Normal, a série leva seu
sobrenome.
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