Roberto Rillo Bíscaro
Sem dúvida e merecidamente, Iuri Gagarin desfruta do
status de herói da humanidade, afinal, foi o primeiro homem a viajar pelo
espaço, em abril de 1961, a bordo da Vostok 1.
À época, porém, o mundo vivia a tensão da Guerra Fria
entre capitalistas e comunistas e a façanha soviética incomodou ainda mais os
norte-americanos, já mordidos de raiva e assustados, porque seus inimigos
Vermelhos havia posto o primeiro satélite artificial a orbitar nosso planeta,
em 1957.
A faceta de corrida e de batida no peito pra mostrar
macheza ao rival não passa batido em Gagarin: o Primeiro no Espaço (2013),
disponível na Netflix.
O filme intercala sequências preparatórias, da execução
e do desfecho do histórico voo com episódios da infância e juventude do
cosmonauta. Muito rapidamente, alude-se à gambiarrice do programa espacial
soviético, que, seis anos mais tarde marcaria novo recorde pro país: Vladimir Komarov tornar-se-ia a primeira vítima de programas espaciais, quando seus
restos carbonizados espatifaram-se na tundra, após missão fadada ao fracasso,
na qual supostamente Gagarin seria escalado não fosse a voluntariedade de
Komarov. Não adiantou muito poupar o herói nacional, porque no ano seguinte ele
morreu, quando o avião que pilotava caiu.
O filme é bem-feito e consegue prender, mas não se pode
esquecer por nenhum segundo que foi parcialmente financiado pelo estado russo e
aprovado pela seletiva e protetora família do cosmonauta. Isso implica na
descrição de Iuri como ser especial, meio ingênuo. É o herói apolíneo; um Homem
Com Uma Missão, como cantava o Kid Abelha, há 35 anos. Nada que o cinema
norte-americano já não tenha feito zilhões de vezes.
Assim, Gagarin faz sorrindo o duro exercício de cabo de
guerra no treinamento; meio que salva seu irmão Boriska dum soldado alemão
pirado e, quando resiste sem esforço aparente a um duro teste de pressão gravitacional,
ouve-se a técnica soltar um “esse é um homem de verdade”. Difícil segurar a
gargalhada.
Igualmente difícil não se
contagiar com a alegria do povo nas ruas celebrando e se entusiasmar com a
aventura. Pena que não seja um Gagarin empatizável, porque distante demais. Se
não soubéssemos que a missão daria certo, tenho dúvidas de que nos
importaríamos com o ser-humano dentro da capsula. Culpa do roteiro que o
desumaniza, mesmo que o mostre brincando com o filho ou dando flores pra esposa.
Mas, é por demais evidente que é mais personagem de propaganda e não um homem
com o qual possamos nos identificar.
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