Roberto Rillo Bíscaro
John Doe provavelmente começou a ser usado nas cortes e
tribunais da Inglaterra do século 14, para satisfazer formalidades técnicas do
judiciário: era o nome dado ao arrendatário denunciante na ação de
desapropriação. Hoje, nos EUA é utilizado pra designar cadáveres/suspeitos de
identidade desconhecida e seu feminino é Jane Doe.
É precisamente uma dessas defuntas anônimas, que cai
nas mãos do experiente legista Tommy e de seu filho-assistente, em The Autopsy
Of Jane Doe (2016), primeiro filme em inglês de André Øvredal, diretor
norueguês que ganhou renome internacional com o divertido Trollhunter (2010),
eficiente contribuição escandinava ao sub-subgênero dos found footage films.
Øvredal fez claustrofóbico horror com praticamente
apenas duas personagens, movendo-se em pequeno necrotério subterrâneo, em
intervalo de poucas horas. Aristóteles aprovaria. Tommy e Austin se preparavam
para encerrar a maratona de autópsias ao som de rock’n’roll, quando o xerife
aparece com uma morta nua, cujo corpo não apresentava sequer um arranhão. Mas,
quando o bisturi corta, as coisas se complicam.
A Autópsia, como conhecido no Brasil, não é para
estômagos delicados e em seus dois primeiros atos cria suspense e intriga com
maestria. Isso até mais ou menos um sensacional momento de corte, lá pelo
quadragésimo-quinto minuto.
Depois disso, perde um pouco da originalidade. Há
alguns clichês e o rigor formal autoimposto cobra seu pedágio: contando apenas
com o par protagônico, a explicação para o mistério brota em longo monólogo
expositivo, como se a personagem tivesse tido epifania.
Nada disso compromete a
diversão de The Autopsy Of Jane Doe, que ainda se permite o luxo de ser filme B
com excelente atuação de ator do calibre de Brian Cox.
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