Difundido a partir dos anos 1930, época do Swing
jazzístico, o uso da palavra groove
(sulco) como gíria para ritmo popularizou-se com a eclosão do funk nos anos
1950 e consolidou-se no léxico da música dançável até hoje.
Groove Nights (The U-Nam Mixes), lançado dia 9 de julho, é
paulada dançante, com um par de midtempos
pra descansar a coluna. Mas, quando se trata de James Day é irresistível
contextualizar os não-iniciados à sua extraordinária história de tragédia e
superação.
O norte-americano sempre quis se dedicar ao canto e à
dança, por isso mudou-se para Nova York, onde estudaria na American Academy of
Dramatic Arts. Não demorou muito e Day foi diagnosticado com a Síndrome de
Ménière, espécie de pressão alta no ouvido, que provoca, entre outras coisas, comprometimento
do equilíbrio e zumbido perene, atrapalhando a audição. A doença acertou em
cheio as funções de que James mais necessitava para ser bailarino e cantor.
Tendo que voltar para cidade-natal e submeter-se a cirurgias/tratamento,
além de viver com o temor constante de que o outro ouvido seja acometido pela
doença, no início, James Day não quis saber de música. Felizmente, superou a
aversão e já há uns dez anos lança material muito bom.
Groove Nights (The U-Nam Mixes) tem esse nome, porque
resulta de colaboração com o DJ francês U-Nam, que remixou 8 faixas do som
retrô de Day, em um álbum que basicamente celebra a dança, a despeito de tempos
sombrios Trumposos, segundo a letra de We Dance, que começa com riff de guitarra funk, um coro dizendo
“this is not a dress rehersal”, uma voz feminina que vai como “when we get a
cha...”, interrompida por MC meio na vibe
do antigo Turbo B, do alemão Snap!, que fala algo, tem mais um trechinho
instrumental funkoso pra voltar a voz de mulher, que não contei ainda, mas é de
ninguém menos que Maysa Leak, a chanteusse solo, do Incognito e de tantos
projetos de outrem. Como resistir aos vocais de fogo sedoso sobre batida
funk-Snapeana? Não dá: we dance!
Groove Nights (The U-Nam Mixes) também dança nostálgica e
luxuosamente por estilos de outrora, como eletrofunk
(Can’t Stop This Dance), new swing jack
(He’s a Hurricane), funk 70’s (Outta Da Funk) e disco (a impiedosamente
sacolejante Love Is My Bible). Para deixar tudo ainda mais “autêntico”, os
vocalistas convidados em todas as faixas são dos subgêneros homenageados. É uma
festa de cantor(a) bom/boa: Cheryl Pepsii Riley, Audrey Wheeler, Glenn Jones,
D-Train, Sandra St. Victor e mais. Quando não é vocal “vintage”, é algum dado
ou maneirismo de produção, como a guitarrinha Nile Rodgers e vocais femininos
típicos do Chic, na infecciosa D.U.I, que significa Dance Under the Influence.
Com essas referências sônicas, esse título e vocal principal da Audrey, resta o
quê ao ouvinte senão o descadeiramento?
Os dois números
deslizantemente midtempo têm
cheirinho de urban soul e new jack swing e nada me tira do ouvido que Who Can
Tell the Heart tem quês de Careless Whispers, de George Michael e True, do
Spandau Ballet. Considerando-se o período que James Day ama e os britânicos
serem blue-eyed soul, tem tudo a ver
a desconfiança. Ouçam e me contem.
Ah, e não esqueçam de me dizer se James Day tem groove ou não tem, mesmo fazendo música com apenas um ouvido bom!
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