Há longínquo meio século, boa parte do mundo se
importava com as idas e vindas do casal Richard Burton e Elizabeth Taylor, que
alimentavam revistas de fofocas com seus dois casamentos e divórcios (e teve
gente que criticou a Sue Ellen, de DALLAS, por cometer o erro de casar duas
vezes com o JR!).
Hoje, mais de dois terços da população não faz ideia de
quem foi Burton e a memória de Liz irá pro mesmo caminho; é a implacabilidade
das areias do tempo. Mas, o tabloidismo do casal ainda fornece lenha pra
fogueiras e por isso a BBC America produziu Burton & Taylor (2013), antes disponível
na Netflix e que os assinantes que ainda não viram deveriam pedir pra retornar.
Acertadamente, o telefilme não oferece visão diacrônica
da vida romântica da realeza do teatro encontrando a de Hollywood. Isso seria
tema pralguma temporada de Feud. Ao invés, Burton & Taylor dramatiza a
incursão da dupla pela Broadway, em 1983, quando encenaram peça de Noel Coward,
chamada Private Lives, satirizando um ex-casal que se encontra por acaso em
suas luas-de-mel com novos parceiros, mas que não esconde que ainda sentem algo
muito forte um pelo outro. Como o público resistiria a essa encenação da
própria história de Rich e Liz? Private Lives foi máquina caça-níqueis encenada
por 2 atores em seus ocasos, mas que rendeu o fluxo de caixa esperado, embora
malhada pela crítica.
Burton & Taylor esforça-se pra adicionar camadas de
significado à história, com alusões a Rei Lear, mas no fundo, espectadores
desse tipo de filme não podem pagar de superiores a quem foi ao teatro, em 1983,
rir das brigas de Rich e Liz. E não faltam espinhadas, farpas, brigas, acessos
de raiva e tapas na cara. Uma delícia eximiamente interpretada por Helena
Bonham Carter e Dominic West.
Como Feud, porém, Burton & Taylor não é painel
tabloideiro das baixarias de superastros. O filme é pequeno ensaio sobre lutar
contra o vício. Burton tenta evitar o álcool; Taylor está chapada de pílulas a
maior parte do tempo e ambos são dependentes um do outro, mas a toxicidade da
relação aconselha distância e abstinência. São 2 egos machucados e envelhecidos
demais, narcisistas ao extremo, como conviver?
Burton & Taylor não é
só pra quem curte esquecer dos problemas e defeitos vendo os dos outros, mas é
humano em não caricaturizar Richard Burton e Eliabeth Taylor, mas mostrar-lhes
a fragilidade e até os momentos em que davam boas gargalhadas ou trepadas (sem
cena de). Fãs
de Feud amarão.
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