terça-feira, 7 de agosto de 2018

TELINHA QUENTE 321


Roberto Rillo Bíscaro

Há longínquo meio século, boa parte do mundo se importava com as idas e vindas do casal Richard Burton e Elizabeth Taylor, que alimentavam revistas de fofocas com seus dois casamentos e divórcios (e teve gente que criticou a Sue Ellen, de DALLAS, por cometer o erro de casar duas vezes com o JR!).
Hoje, mais de dois terços da população não faz ideia de quem foi Burton e a memória de Liz irá pro mesmo caminho; é a implacabilidade das areias do tempo. Mas, o tabloidismo do casal ainda fornece lenha pra fogueiras e por isso a BBC America produziu Burton & Taylor (2013), antes disponível na Netflix e que os assinantes que ainda não viram deveriam pedir pra retornar.
Acertadamente, o telefilme não oferece visão diacrônica da vida romântica da realeza do teatro encontrando a de Hollywood. Isso seria tema pralguma temporada de Feud. Ao invés, Burton & Taylor dramatiza a incursão da dupla pela Broadway, em 1983, quando encenaram peça de Noel Coward, chamada Private Lives, satirizando um ex-casal que se encontra por acaso em suas luas-de-mel com novos parceiros, mas que não esconde que ainda sentem algo muito forte um pelo outro. Como o público resistiria a essa encenação da própria história de Rich e Liz? Private Lives foi máquina caça-níqueis encenada por 2 atores em seus ocasos, mas que rendeu o fluxo de caixa esperado, embora malhada pela crítica.
Burton & Taylor esforça-se pra adicionar camadas de significado à história, com alusões a Rei Lear, mas no fundo, espectadores desse tipo de filme não podem pagar de superiores a quem foi ao teatro, em 1983, rir das brigas de Rich e Liz. E não faltam espinhadas, farpas, brigas, acessos de raiva e tapas na cara. Uma delícia eximiamente interpretada por Helena Bonham Carter e Dominic West.
Como Feud, porém, Burton & Taylor não é painel tabloideiro das baixarias de superastros. O filme é pequeno ensaio sobre lutar contra o vício. Burton tenta evitar o álcool; Taylor está chapada de pílulas a maior parte do tempo e ambos são dependentes um do outro, mas a toxicidade da relação aconselha distância e abstinência. São 2 egos machucados e envelhecidos demais, narcisistas ao extremo, como conviver?
Burton & Taylor não é só pra quem curte esquecer dos problemas e defeitos vendo os dos outros, mas é humano em não caricaturizar Richard Burton e Eliabeth Taylor, mas mostrar-lhes a fragilidade e até os momentos em que davam boas gargalhadas ou trepadas (sem cena de). Fãs de Feud amarão.

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