Succession foi a coisa mais mordaz que vi este ano na TV
e a melhor sátira familiar que conheço, desde Sopranos. Tenho sua atenção?
Comecemos, ora pois.
Só que Succession é da HBO, então não poderia ser soap. Mas, a premissa era uma família
bilionária, cujo pai ensaiava deixar a chefia do megaconglomerado midiático pro
filho mais velho, até que se decidia por outra coisa e a guerra civil começava.
Rei Lear.
Próximo passo: ver quem interpretava o patriarca. Quando
li que o shakespeariano Brian Cox seria Logan Roy, Succession se tornou
obrigação. Além disso, havia ainda Hiam Abbass, a atriz palestina de
preciosidades como A Noiva Siria, The Lemmon Tree e O Visitante. Sem contar Matthew
Macfadyen, que já foi Mr. Darcy, e até cameo
do James Cromwell. Como escapar de tantas sinas?
Criada pelo britânico Jesse Armstrong, a dezena de
capítulos de Succession foi exibida entre 3 de junho e 5 de agosto, pra
audiências muito reduzidas. Não pertença a essa maioria.
Claramente paralelizando o infame clã do magnata
midiático Rupert Murdoch, Logan Roy e seus quatro filhos - mais agregados –
descortinam corrosiva moralidade esvaziada, onde cada detalhe conta pra
entendermos esse grupo de sociopatas, com os quais é difícil se identificar,
porque são todos amorais passivo-agressivos. Bem, Logan é agressivo só, mas a
antológica cena final é digna dum Poderoso Chefão sem sangue (pelo menos não
dos Roy) ou gritos.
Com memorável e grandiloquente tema de abertura, que
sugere mundo de fausto febril, Succession é sucessão de brutais ironias
dramáticas, que mostra que apesar dos helicópteros, carros com chofer e
casamentos em castelos britânicos, essa gente tem bem pouco de épico.
Uma das chaves pra desfrutar dos diálogos lotados de
palavrões e trocas muitas vezes beirando o nonsense, é entender Succession como
comédia de erros de humor negro.
A despeito da baixa
audiência, a HBO renovou o show pruma segunda temporada, embora a primeira não
tenha propriamente um cliffhanger. Caso
a rede desistisse de Succession, não restaria nenhuma pendência. Ficamos
curiosos pra saber o desenrolar, mas praticamente todo mundo atinge situação de
“equilíbrio”. Curioso pra ver o que Armstrong aprontará ano que vem.
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