terça-feira, 28 de agosto de 2018

TELINHA QUENTE 324



Roberto Rillo Bíscaro

Succession foi a coisa mais mordaz que vi este ano na TV e a melhor sátira familiar que conheço, desde Sopranos. Tenho sua atenção? Comecemos, ora pois.

Quando li o nome Succession em um site, me deu comichão. Parecia novelão, tipo DALLAS, Revenge, Deception, que dinossauramente amo. Até à flopada reedição de Dynasty, que passa na Netflix,, eu vejo.
Só que Succession é da HBO, então não poderia ser soap. Mas, a premissa era uma família bilionária, cujo pai ensaiava deixar a chefia do megaconglomerado midiático pro filho mais velho, até que se decidia por outra coisa e a guerra civil começava. Rei Lear.
Próximo passo: ver quem interpretava o patriarca. Quando li que o shakespeariano Brian Cox seria Logan Roy, Succession se tornou obrigação. Além disso, havia ainda Hiam Abbass, a atriz palestina de preciosidades como A Noiva Siria, The Lemmon Tree e O Visitante. Sem contar Matthew Macfadyen, que já foi Mr. Darcy, e até cameo do James Cromwell. Como escapar de tantas sinas?
Criada pelo britânico Jesse Armstrong, a dezena de capítulos de Succession foi exibida entre 3 de junho e 5 de agosto, pra audiências muito reduzidas. Não pertença a essa maioria.
Claramente paralelizando o infame clã do magnata midiático Rupert Murdoch, Logan Roy e seus quatro filhos - mais agregados – descortinam corrosiva moralidade esvaziada, onde cada detalhe conta pra entendermos esse grupo de sociopatas, com os quais é difícil se identificar, porque são todos amorais passivo-agressivos. Bem, Logan é agressivo só, mas a antológica cena final é digna dum Poderoso Chefão sem sangue (pelo menos não dos Roy) ou gritos.
Com memorável e grandiloquente tema de abertura, que sugere mundo de fausto febril, Succession é sucessão de brutais ironias dramáticas, que mostra que apesar dos helicópteros, carros com chofer e casamentos em castelos britânicos, essa gente tem bem pouco de épico.
Uma das chaves pra desfrutar dos diálogos lotados de palavrões e trocas muitas vezes beirando o nonsense, é entender Succession como comédia de erros de humor negro.
A despeito da baixa audiência, a HBO renovou o show pruma segunda temporada, embora a primeira não tenha propriamente um cliffhanger. Caso a rede desistisse de Succession, não restaria nenhuma pendência. Ficamos curiosos pra saber o desenrolar, mas praticamente todo mundo atinge situação de “equilíbrio”. Curioso pra ver o que Armstrong aprontará ano que vem.

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