quinta-feira, 30 de agosto de 2018

TELONA QUENTE 251


Roberto Rillo Bíscaro

Numa pequena cidade colombiana - presumivelmente na década de 1970, devido à intromissão dos militares um par de vezes - o padre pensa que manda e desmanda. Substituto dum pároco mais leniente, o grisalho se recusa a rezar missa pro suicida Aimer, apesar desse pertencer à tradicional família católica. Intransigente, o reverendo ordena que o corpo de Aimer seja retirado do cemitério religioso. Se a família Zapata não o fizer em 24 horas, o vigário suspenderá a realização de todos os sacramentos (batismo, crisma, eucaristia, penitência, unção dos enfermos, ordem e matrimônio).
Essa é a premissa de O Suborno do Céu, (2016), do roteirista/diretor Lisandro Duque Naranjo, constante do catálogo de nossa Netflix.
Diante do autoritarismo do prelado, o ateu Allfer Zapata o desafia e não remove o corpo do irmão. Quando os sacramentos são cancelados – às vésperas da lucrativa Semana Santa – a cidade se divide e o roteiro explora diversos desdobramentos da rixa, como o desenvolvimento dum comércio paralelo e até mesmo a abertura do terreno pros evangélicos, que se aproveitam da inflexibilidade católica de se adequar a novos tempos.
Com simpatia claramente pendendo pro lado contestador, O Suborno do Céu também é a luta pelo poder entre um homem velho e um novo, ambos bastante inflexíveis em suas posições, a ponto de em nenhum momento questionarem porque diabos há tantos suicídios naquele lugar, que permite que longa lista seja elaborada.
O filme tem algumas cenas desnecessárias à trama central, cujo tempo poderia ter sido utilizado pra aprofundar questões que deveriam importar mais ao roteiro.
Mesmo assim, O Suborno do Céu tem o mérito de desencadear discussões, fazer refletir sobre hipocrisias e miopias dogmáticas, além de apresentar aos brasileiros, exemplar da filmografia colombiana, tão alienígena à maioria do público.
E já que o assunto é denúncia de abuso religioso em filmografias não tão populares entre nós, a Netflix também tem o poderoso El Bosque de Karadima, produção chilena, de 2015.

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