Embora tenha
acesso ao Spotify, não o usava muito, por falta de costume (foi assim com o
Youtube e a Netflix; coisa de velho) e porque as discografias têm buracos, além
dos irritantes erros nas datas de lançamento. Desejava, porém, conhecer mais La
Coscienza di Zeno (CoZ), cujo segundo álbum, Sensitivitá, esteve na minha lista de melhores de 2015.
Pra variar, falta
o primeiro álbum no serviço de streaming,
mas achei La Notte Anche Di Giorno (2015), terceiro álbum dos genoveses.
A formação do CoZ
para esse incrível trabalho foi Alessio Calandriello (vocais); Davide Serpico (guitarras
e violões); Luca Scherani (pianos, teclados, órgãos e bouzouki; instrumento de
cordas grego); Stefano Agnini (sintetizadores e órgãos); Domenico Ingenito (violino);
Gabriele Colombi (baixo) e Andrea Orlando (bateria e percussão). Para ampliar a
luxuriante paisagem sonora, chamaram Simona Angioloni, para os vocais em Lenta
Discesa All’Averno; Melissa Del Lucchese (violoncelo) e Joanne Roan (flauta).
La Notte Anche Di
Giorno é constituído de duas longas suítes: Giovane Figlia, com 24 minutos e Madre
Antica, de 20. Ambas subdividas em seções, procedimento tradicional no mundo
prog, desde os Moody Blues.
CoZ sabe que pode
haver vocalista igual (duvido), mas não superior, na atual cena progressiva da
Bota e por isso abre Giovane Figlia com o potente e bombástico Alessio
Calandriello. Sua voz é cristalina, poderosa, sobe, desce, dramatiza, comove,
excita. A Ritrosa sobrepõe esse vocal a cinco minutos exultantes de puro prog
sinfônico ITALIANO, não há outra definição. Se você não gostar da canção, nem
adianta prosseguir, mas difícil um fã de rock progressivo sinfônico, cantado em
italiano, desgostar do passeio de montanha-italiana que se inicia com A
Ritrosa. Sempre melódica, a suíte intercala puro fogo com momentos de derreter
o coração.
Il Giro del Cappio
pode arrancar lágrimas dos saudosos pelos anos 70, mas a produção é
impecavelmente contemporânea. Calandriello, violino com teclado sutil e o
idioma italiano juntam-se em segundos de arrepiar, seguidos por intensificação
em melodia e vocais vigorosos. E é o tempo todo assim: diferentes órgãos
ejaculam com guitarras, numa orgia de mudanças de ritmo, tempo e clima. Milagrosas
ressurgências melódicas, quando menos se espera. Tem hora que lembra Piazolla,
há momento que entra o vocal em francês de Simona Angioloni e o clima vai pra
folk medieval. Impecável.
Num trabalho onde
títulos indicam antíteses, como notte
e giorno, a segunda suíte chama-se
Madre Antica, estabelecendo antipodismo etário, uma vez que à juventude da
filha do título da suíte inicial, contrapõe-se a madureza da mãe desse conjunto
de 4 canções.
Em sintonia com os
opostos, o clima geral é mais desacelerado e a canção de abertura, Il Paese
Ferito, começa mesmo sinistra, lembrando alguns trechos mais arrastados de The Lamb Lies Down On Broadway. Clima mais operístico, como o de Giovana Figlia só
mesmo em La Staffetta, onde a melodia linda e vibrante unida ao vocal de
Alessio logo dão espaço pra delicado madrigal de piano.
La Notte Anche Dio Giorno é daqueles álbuns que
fornecem munição para detratores e amantes da grandiosidade de certo rock
progressivo italiano. Caí de joelhos e, de quebra, passei a usar mais o
Spotify.
Não paga pelo serviço? Nada de vitimismo, tipo "ah, é só pra quem pode" etc. Tem no Bandcamp e dá pra ouvir de graça!
Não paga pelo serviço? Nada de vitimismo, tipo "ah, é só pra quem pode" etc. Tem no Bandcamp e dá pra ouvir de graça!
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