Roberto Rillo Bíscaro
Se em bandas comercialmente pequenas, como o Renaissance,
o pau comia a ponto de virar litígio judicial, imagine em gigantes como o Yes.
Baluartes do prog rock, nos 70’s e do AOR, nos 80’s, os britânicos sempre
viveram entre tapas e beijinhos no ombro, afinal, milhões estavam em jogo e
egos infla(v)am.
Atualmente, existem duas versões da banda. A controlada
por Steve Howe e que este ano lançou releitura do competente Fly From Here
(2011), da qual gostei, mas nem quis escrever, porque Yes – como afirmei na
elogiosa resenha do Fly From Here original – tem que ter Jon Anderson pra fazer
jus ao nome. E tem uma versão da banda com ele, também excursionando para
comemorar o cinquentenário do conceito Yes e também lançando material este ano.
Para bonificar, a facção do Yes controlada por Anderson
traz Rick Wakeman nos teclados. Assim, quando lançaram o ao vivo Live At The
Apollo, no dia de nossa independência, apressei-me em escutar.
Essa briga de prima-donas esmaecidas pode até resultar em
mais material, mas dificulta a vida dos decrescentes fãs. Ao procurar por Yes,
no Spotify, não localizei o álbum. Tive que digitar o nome do álbum na busca
para que aparecesse, porque esse Yes é featuring Jon Anderson, Trevor Rabin,
Rick Wakeman.
Live At The Apollo registra show da turnê celebratória de
meio século do Yes, em Manchester, ano passado. Além dos vocais de Anderson,
teclados de Wakeman e guitarra de Rabin, há Lee Pomeroy, no baixo e Lou Molino,
na bateria. Se você quiser ver Rick
Wakeman ainda vestido de capa de pequeno príncipe cravejada de lantejoula, há
versão em DVD. Este texto é sobre o CD duplo, lançado pela Eagle Rock.
A introdução adequadamente imperial reflete o balanço
delicado em termos de repertório. Acordes de Cinema e ameaça de que tocariam
Hold On – ambas do estouro AOR, de 90125 (1083) – precedem o clássico Perpetual
Changes, de um dos álbuns mais amados da fase prog áurea: The Yes Album (1971).
Afiados como facas Gimsu laser alfa-plus, o quinteto trafega impecável
tecnicamente por canções que oscilam de qualidade entre esses dois polos.
Jon Anderson já passara 2 anos da casa dos 70, quando do show e seus vocais ainda
impressionam/irritam. Sua voz é uma das mais controversas do rock pela agudeza;
nós fãs idolatramos, mas já houve quem o chamasse de “uma alface no cio”. Ambas
facções ficarão igualmente satisfeitas em suas expectativas, porque Napoleão
(baixinho mandão, dai o apelido) não deixa pedra sobre pedra em perfeições como
Heart of Sunrise ou And You & I.
O gume de Rabin, os floreios majestáticos de Wakeman e
uma cozinha que não tenta emular o falecido Chris Squire ou Alan White injetam
sangue novo em números como Owner Of a Lonely Heart e Rhythm Of Love, que
ganham mais músculo. Mas, nem a notável melhorada nos arranjos salva a chatusca
Lift Me Up, humilhada entre I’Ve Seen All Good People e And You & I. Os 22
minutos de Awaken podem até permitir descanso à voz de Anderson, mas seus
floreios que quase chegam ao new age
enjoam. Em termos épicos, falamos duma banda que compôs Close to the Edge; dela
pra Awaken é ladeira abaixo.
Sorte que na maior parte do tempo, repertório e execuções
acertam em cheio e é hipnótico ouvir a calcinante guitarra de Hold On ou a
corredeira de Roundabout.
Com repertório tão vasto e desigual em padrão de qualidade,
o Yes poderia ter apostado em faixas como Siberian Katru no lugar de fillers como Changes. Será que algum fã
reclamaria?
Mesmo com essa discrepância
no repertório, Live At The Apollo não decepcionará Yesmaníacos, que,
provavelmente farão novenas e macumbas pra que Anderson/Wakeman/Rabin lancem
material de estúdio inédito, mesmo que a turminha de Howe/White não queira.
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