terça-feira, 4 de setembro de 2018

O BACURAU ALBINO

Flagrante raro: bacurau albino foi registrado em Iguaba Grande (RJ)

De penas brancas e olhos vermelhos, a ave chamou atenção do observador Sandro Paixão; o fenômeno tem origem genética e pode afetar a visão da ave. 


Durante uma passarinhada em Iguaba Grande (RJ) com a esposa, o observador de aves Sandro Paixão foi surpreendido ao avistar um bacurau albino. Os primeiros cliques foram difíceis, já que a ave estava escondida entre os galhos, mas o observador persistiu até conseguir registrar a espécie. 

Foram 10 passarinhadas na mesma trilha, muitas sem sucesso. “No sexto dia finalmente consegui registrar o bacurau, mas a identificação da espécie seria possível somente com a vocalização do indivíduo, essa, registrada na nona expedição”, conta. 

A partir dos primeiros registros Sandro constatou que a ave era albina. “Ele apresentava penas totalmente brancas, bico claro e olhos vermelhos”, conta o fotógrafo, que se alegra em registrar um fenômeno como este. “Como observador de aves, fotógrafo amador e amante da natureza, fico feliz em contribuir para incrementar o conhecimento sobre essa espécie. O registro me estimula a continuar com a observação de aves, atividade que contribui para a preservação das espécies e faz parte da rotina de minha família”, completa. 

O orgulho em ser autor do flagrante não é exagero. De acordo com o ornitólogo Thiago Vernaschi existem poucos registros de albinismo em bacuraus. “É realmente raro encontrar um indivíduo albino dessa espécie, esse registro foi realmente um fato inusitado”, diz. 

A raridade se deve principalmente ao fato de muitos indivíduos albinos não chegarem à vida adulta. “No caso dos bacuraus a camuflagem é a principal estratégia de defesa, ou seja, a perda da coloração da plumagem pode arruinar essa estratégia e tornar a ave mais vulnerável, ainda que não seja possível afirmar essa hipótese com certeza”, explica o ornitólogo. 

Thiago ressalta que, embora seja possível que as aves estejam mais expostas à predação, não há registros documentados, o que dificulta afirmar se a predação é maior em um indivíduo albino. 

O ornitólogo também aponta a alteração na visão dos albinos como uma característica que dificulta a sobrevivência da espécie. “Aparentemente o albinismo aumenta a sensibilidade do indivíduo à luz e afeta sua acuidade visual. Provavelmente é esse o fato que os torna mais vulneráveis, e não exatamente a coloração da plumagem”, diz. 

COLORAÇÃO DO BACURAU 

Além do albinismo, registrado pelo observador Sandro, existem casos de leucismo em bacuraus, quando apenas partes do corpo da ave apresentam plumagem despigmentada, de forma assimétrica. “A pigmentação da íris dos olhos nos casos de leucismo permanece normal, enquanto no albinos a despigmentação é completa”, explica o ornitólogo, que ressalta a importância de observar bem os detalhes da ave antes de determinar se há ou não alterações de pigmentação. 

“Os bacuraus são bem conhecidos pela grande variação intraespecífica na tonalidade da plumagem, existindo indivíduos mais claros, mais escuros ou rufos dentro da mesma espécie, como uma variação natural”, diz Thiago. 

IDENTIFICAÇÃO DIFÍCIL 
O empenho em registrar a ave em detalhes permitiu ao observador constatar que se tratava de um bacurau-tesoura. “De antemão já sabia que registros do bacurau, bacurau-chintã e bacurau-tesoura foram feitos na região. Ao comparar as fotografias eu arriscava dizer que o bacurau albino era fêmea da espécie bacurau-tesoura, pois as feições do bico eram parecidas e, como o rabo não era comprido, seria a fêmea. Com a resposta da ave ao playback da espécie pude comprovar minha hipótese”, lembra Sandro, que observou um macho do bacurau-tesoura no mesmo local. 

De acordo com o ornitólogo Thiago, a identificação pelos registros é difícil, mas a resposta da ave à vocalização pode confirmar a hipótese de ser um bacurau-tesoura. 


O ALBINISMO NAS AVES 
Thiago Vernaschi explica que o albinismo altera a coloração de todas as estruturas onde há pigmento, incluindo penas, íris e bico. “Dessa forma, os albinos têm a plumagem toda branca, olhos vermelhos, bico e pés rosados”. 

De acordo com o ornitólogo, as alterações de coloração na plumagem são resultado de mutações genéticas que afetam processos de síntese ou distribuição de pigmentos. “Fenômenos como esses resultam em alterações como leucismo, melanismo, albinismo, entre outros”, explica o especialista. “Algumas doenças ou deficiências nutricionais também podem acarretar variações de coloração de plumagem”, completa. 

Comuns entre as populações animais, o albinismo é resultado de um gene recessivo, ou seja, a proporção de indivíduos que carregam o gene é provavelmente muito maior do que se imagina, mas para ser albino o indivíduo precisa receber a mutação do pai e da mãe.

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