Roberto Rillo Bíscaro
Dia de dobradinha. Duas deliciosas minisséries de
suspense, cujo nome em inglês é o mesmo: The Disappearance.
O Canadá está se saindo melhor que a encomenda com
séries fofentas tipo a primeira temporada de Anne With An E e também a inicial
do Canoir, Cardinal.
Entre outubro e novembro do ano passado, a CTV cravou
outra joia na coroa televisiva canadense com a meia dúzia de capítulos de The
Disappearance.
O pequeno Anthony tinha que apresentar trabalho escolar
sobre os hábitos e costumes de sua comunidade suburbana ou de pequena urbe, não
dá pra perceber. Para isso, saiu fotografando por entre as ruas frequentemente
úmidas. Na hora de apresentar em classe, a baita surpresa: o pequeno
bisbilhotara e registrara a roupa-suja de toda a vizinhança. O primeiro
episódio – e o menos legal, porque é quase pura exposição – também nos
apresenta os pais divididos pelo divórcio e o vovozinho ex-juiz, um amor de
senhor, mas, epa, há flashback pra
aprendermos que seu passado tem segredo nervoso.
Como é aniversário de Anthony, apesar das broncas pela
indiscrição, vozinho tá preparando caça ao tesouro, com pistas pregadas no
cemitério, em loja de imigrante, enfim, tudo normal. Afinal, que família não
encoraja seus guris a perambularem sozinhos por cemitérios e florestas? Daí, o
precoce Anthony desaparece.
Dispondo de pletora de suspeitos em potencial, devido à
arte do pequerrucho, The Disappearance evita o caminho Broadchurch. Ao invés,
passam-se 2 anos e evidências afloram de que Anthony esteja ainda vivo. O
carrinho da montanha-russa dramática, que apenas subira, dá a primeira descida
e os restantes cinco capítulos são desvairados loopings, que envolvem de mamãe dando pra estranho pra conseguir
prova e pistas que dependem de conhecer o peso atômico do arsênio. Afinal, que
detetive desconhece a tabela periódica?
Se você consegue suspender a descrença o tempo todo e
genuinamente adora tramas melodramáticas, onde planos bolados com anos de
antecedência ocorrem quase sem falhas, então a mini estrelada por Peter Coyote,
(já fazendo papel de avô!), de ET – O Extraterrestre, é pra você.
Como não rolar de rir com a pista do arsênio? Mas, não
riso de escárnio. Imagine. Risadona gostosa de excitação por reviravoltas,
revelações, bomba, drama, afinal, tédio a gente já vive no dia-a-dia.
The Disappearance não imita estilo Nordic Noir, também
não reinventa nenhuma roda. Não detetive depressivo vasculhando ambientes nevados.
É mais sobre família devastada pelo passado, que, segundo opinião prevalente
nos roteiros de cine e TV, jamais consegue camuflar totalmente.
Pra maratonar.
Ao pé da letra,
Disparue (2015) traduz-se como Desaparecida, mas quando a BBC4 a transmitiu, os
oito capítulos foram anglicizados pra The Disappearence. Como sua posterior
xará canadense, a mini francesa evita referência direta ao Nordic Noir, mas os
cromossomos das primeiras temporadas de Forbrydelsen e Broadchurch estão nesse
genoma.
Na véspera de seu aniversário de 17 anos, a estonteante
Léa Morel desaparece e Disparue dispara pra esmiuçar não apenas a investigação
policial, mas os devastadores efeitos psicológicos nas famílias envolvidas.
Matematicamente, o roteiro se divide em 4 capítulos pra descobrir o que houve
com a loira e os restantes pra deslindar as consequências.
Não faltam suspeitos,
pistas, decisões estúpidas/questionáveis, segredos & mentiras e, claro,
reviravoltas, dentro dos conformes duma história de detetives. Também
coincidências inverossímeis, que tem de ser aceitas pra efeito de dramaticidade
e valor de choque. Entretanto, isso está acoplado a ótimas atuações de gente
bonita, na linda Lyon e conectado emocionalmente com o espectador, porque
bastante tempo é devotado a detalhes dos relacionamentos e cotidianos, antes e
depois de aprendermos porque Léa sumiu.
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