Roberto Rillo Bíscaro
Quando eu era criança, parece que tudo virava desenho.
Tinha versão animada de Jeannie é um Gênio, Jornada nas Estrelas (tem na
Netflix) e As Panteras viraram panterinhas acompanhando o Capitão Caverna. Até
astros pop transformaram-se em cartuns: tinha desenho dos Beatles e dos Jackson
5.
Lembrei disso, enquanto maratonava esbaforido O
Príncipe-Dragão, produção deste ano, da Netflix. Criada por Aaron Ehasz e Justin Richmond, o show soa como versão
animada de Game Of Thrones. No episódio um, até se comenta que o inverno está
chegando...numa hora dessas.
Que isso não desmotive fãs do sucesso da HBO, irados por
plágio ou quem não vê graça em DULLnerys Targaryen. Apesar das muitas
semelhanças (inclusive uma platinada protegendo um ovo de dragão), O
Príncipe-Dragão tem sua mitologia e não é cópia escarrada. Acontece que na
cultura tudo se transcria, é isso aí, o autor de Game também não criou nada a
partir do nada.
Em um mundo profundamente dividido entre humanos e elfos,
crianças e uma elfa albina-sem-mencionar-albinismo têm que preservar lindíssimo
ovo de dragão, esperança de paz praquele mundo cindido pelo ódio racial.
Com potencial pra agradar tanto adultos mais lúdicos
quanto piás mais graúdos, O Príncipe Dragão tem boa história, situações aderentes
e cliffhangers que te fisgam pro
próximo episódio. Os vilões não se mostram imediatamente e são tão gostáveis
quanto os mocinhos, no sentido de fazerem piadas, comentários irônicos. Sei lá
se é defeito do roteiro (não interpretei assim) ou se desenho hoje é assim
mesmo. Não vejo tantos. E por falar em desenhos, se você viu O Vazio e amou Kai, O Príncipe Dragão tem Callum, metralhadora de chistes infames. Em inglês é
muito legal: tem um pedaço em que explicam com minúcia o que é hangry. Nem faço ideia de como
traduziram essas partes.
Além de descolado, o roteiro ainda é inclusivo e
multiétnico. Tem gente de tudo quanto é cor sem fazer diferença e uma general
se comunica através da língua de sinais, não é o máximo? E sem alarde, é o
natural dela, então já basta.
Aaron Ehasz tem credenciais
respeitadas pelo sucesso de público e crítica de Airbender e O Príncipe Dragão
tem potencial pra se transformar no novo Avatar, mas a Netflix é empresa e vive
de lucro. Por isso, a primeira temporada é teste de apenas nove episódios.
Frustra, porque dá muita vontade de mais. É torcer pra que tenha audiência e
gere outra, mais longa.
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