Roberto Rillo Bíscaro
Há tempos que o ancião sub-subgênero slasher vem tendo
suas convenções subvertidas/explicitadas/confundidas/modificadas/parodiadas. O
marco é o influente Pânico (1996), de Wes Craven. Poder-se-ia citar Cherry
Falls (2000), em que as vítimas do maníaco são virgens; Terror nos Bastidores
(2015), que problematiza as clássicas final
girls, além de injetar A Rosa Púrpura do Cairo, no horror e A Morte Te Dá Parabéns (2017), que ao aludir a elemento de Feitiço do Tempo (1993) no
roteiro, prevê a possibilidade de mudança no destino das personagens.
Mesmo em seu auge comercial, na primeira metade dos 80’s,
slashers continham elementos de
humor, por vezes involuntários, como o clássico final de Sleepaway Camp (1983).
Neste milênio, o tom cômico/paródico prevalece, pra satisfazer uma geração
esperta, irônica, cheia de referências, que já viu “tudo” (da segurança de suas
telinhas).
Ano passado, passou quase batida uma espécie de fusão slasher com Patricinhas de Beverly Hills
(1995) caça-curtidas de rede social.
Tragedy Girls, escrito por Chris Lee Hill e Tyler
MacIntyre, com direção deste último, brinca com algumas convenções slasher, ao mesmo tempo que comenta a
fome insaciável pós-moderna por atenção internética. Curioso, que a associação
dos jovens atuais com vício em redes sociais já esteja tão velhusco quanto a
forma slasher. Tempos velozes!
As superfofas e melhores “migas” McKayla Hooper e Sadie
Cunningham são na verdade, duas psico/socipatazinhas, que, pra bombar seu canal
na internet, assumem a vez do assassino mascarado, legendário nos filmes slasher. Provavelmente, o pedaço mais
subversivo seja a cena de abertura, que distorce a clássica convenção dos
namorados se catando no carro, quando um deles ouve um barulho e sai pra
investigar, ao invés de simplesmente ligar a p**** do automóvel e vazar!
Tragedy Girls poderia ter mais mortes, mas as poucas são
até interessantes, inclusive uma que parodia a franquia Premonição, que o
roteiro faz questão de frisar, caso sua audiência não entenda a piada. Tem
citação a Dario Argento pra mostrar que os criadores são hipster e conhecem o que a maioria de seu público provavelmente não,
e as falas das meninas (ótimas) são repletas de farpas e naquele estilo meio na
garganta ou com voz de caricatura de desenha animado.
Pra nós, fãs mais antigos de slasher (cada vez menos existimos, claro), faz falta histórias
“sérias”, como a segunda temporada de Slasher (tem na Netflix), mas Tragedy
Girls saciará a fissura e quem sabe, ocasionará boas risadinhas se você
simpatizar com esse tipo de guria. Eu amo.
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