Os asilos de Madalena existiram entre o século XVIII e o
final do século XX e eram chamadas de casas de "mulheres perdidas".
Estes locais operaram por toda a Europa e América do Norte (mas parece que quem
arcou com o grosso da fama foi a Irlanda) e abrigavam mulheres com deficiência
física e mental, rebeldes, mães solteiras e suas filhas, vítimas de estupro e
aquelas que se acreditava possuir caráter duvidoso, como as prostitutas. O
primeiro asilo foi fundado em 1765, por Arabella Denny, na capital da Irlanda.
A instituição recebeu o nome inspirado em Santa Maria Madalena, que segundo a
compreensão católica, se arrependeu de seus pecados e se tornou uma das mais
fiéis seguidoras de Jesus Cristo.
Em 2014, foram encontrados 800 esqueletos de bebês em
apenas uma dessas casas de misericórdia e caridade, na Irlanda e filmes como
Philomena chamam a atenção para a ilha. Indefensáveis as tais irmãs de caridade
que perpetraram tanto sofrimento, mas a madre superiora dum desses asilos
virulenta e certeiramente culpa toda a sociedade, que, com suas hipocrisias
morais e religiosas empurrava suas mulheres e crianças “sujas” pra detrás
daqueles muros e depois pagavam de chocadas, quando as barbaridades eram
descobertas.
Esse tapa na cara é dado em The Devil’s Doorway (2018),
longa de estreia da irlandesa Aislinn Clarke. Apesar de não ser grande filme,
Clarke é nome pra se ficar de olho, porque há potencial. Provavelmente pra
driblar questões orçamentárias, o formato escolhido foi o do found footage film, mas a novidade é que
se trata dum filme de época.
Em 1960, 2 padres vão a um convento investigar estátuas
lacrimejantes da Virgem. Father John é o jovem que filma tudo e está excitado e
sedento por um milagre; tanto por questões de fé, mas dá pra sentir o tino
comercial e a vaidade do que isso significaria. Father Thomas, como indica o
nome, não acredita em mais nada, devido aos descalabros presenciados em nome da
religião. Quando contatam uma menina endemoninhada no porão, o velho padre tem
que reconsiderar seu materialismo.
Crer na existência do sobrenatural é tema recorrente em
filmes de horror, afinal, do fantasmagórico depende a existência do subgênero.
The Devil’s Doorway funciona como versão found
footage d’O Exorcista, do qual repete todos os procedimentos e maneirismos
aos quais acrescenta a correria de câmera balouçante e imagens truncadas dos found footage.
Ser de época também impõe dificuldade. Se já fica difícil
crer que alguém manteria câmera ligada, enquanto tenta salvar sua própria pele,
imagine isso com o trambolho pesado que devia ser o equipamento de quase 60
anos atrás. Além disso, apesar de tratadas, a imagem que vemos tem resolução
boa demais pra ter tanto tempo e gravada em maquinaria tão “primitiva”.
Malgrado isso tudo, The
Devil’s Doorway tem excelente interpretações de Lalor Rody e Helena Bereen,
raridade em found footage films e
mais, um roteiro! Muitas produções desse sub-subgênero solavancam em mais de um
sentido, e pronto.
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